Em reportagem publicada neste domingo, 1º de maio, o jornal O Globo informa que, sem amparo legal, todo santo dia seis policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil do Rio se revezam na segurança de Júlia Emília Mello Lotufo, viúva do miliciano Adriano da Nóbrega, na garagem do prédio onde ela mora, na praia da Barra da Tijuca.

O Globo se põe a fazer contas do quanto o Estado do Rio de Janeiro gasta, entre salários dos policiais e gasolina para as viaturas, com a segurança de uma pessoa que fez um acordo de delação premiada que, afinal, deu em água.

O mais interessante na reportagem, porém, é o acordo de delação que deu em água.

A reportagem d’O Globo dá conta de que Júlia Lotufo começou a alinhavar o acordo com o Ministério Público do Rio em junho do ano passado. O jornal diz que em troca de informações sobre o mandante do assassinato de Marielle Franco e sobre a motivação do crime, Júlia pleiteava sair do país.

“No entanto – diz O Globo, mais à frente -, como ela apontou uma pessoa que tinha foro privilegiado em seu depoimento à promotoria, os anexos da delação foram enviados para a Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília”.

Depois, por um detalhe burocrático qualquer, a delação voltou para o MPRJ.

Voltando ao Rio, a delação da viúva de Adriano da Nóbrega foi descartada, em fevereiro, porque os dados fornecidos foram considerados inconsistentes. Ao contrário de pencas de delações feitas nos últimos anos no Brasil, esta não vazou.

No Brasil, o instituto da delação premiada também parece fisgado pela “polarização”: ele existe em sua curitibaníssima versão, já desmascarada, e no padrão República da Barra da Tijuca, onde informações sobre o principal crime político da história recente do país viaja pra cá, viaja pra lá, envolve um delatado com foro e, num belo dia, termina num triturador.

Mas vamos adotar um prisma positivo, otimista, prafrentex: como não há mais nada – nenhum sinal, vizinhança, nada – além da delação de Julia Lotufo, que ligue pessoas com foro especial ao apertador de gatilho que matou Marielle, talvez seja o caso de festejar: o Ministério Público deste país pode estar mais cuidadoso, responsável, profissional, imune às influências da política.

Viva!

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