Na última quinta-feira, 13, Lauro Jardim, em seu blog n’O Globo, disse que “passou meio despercebido” que o general de Exército Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira tenha ido “dar uma força ao ex-faz-tudo de Jair Bolsonaro”; que tenha ido visitar o tenente-coronel Mauro Cid na prisão. De fato, “passou meio despercebido” que o general Estevam Theophilo esteja entre as 73 pessoas que visitaram Mauro Cid no cárcere, mas não para este Come Ananás.
Dois dias antes do post de Lauro Jardim, na terça-feira, 11, Come Ananás notava que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro recebeu na prisão pelo menos 11 generais do Exército Brasileiro, oito da reserva e três da ativa, e que entre os três da ativa “consta na lista o nome do general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira. Trata-se do atual chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército”.
Mauro Cid está preso desde o dia 3 de maio no 1º Batalhão de Ações e Comandos do Exército, em Brasília. Os 73 visitantes que constam na lista foram ter com Cid nos seus primeiros 19 dias de xadrez especial, ou seja, entre 3 e 21 de maio. Não veio a público em que dia exato, neste intervalo, o general Estevam Theophilo visitou Mauro Cid, nem se foi uma visita só.
O que segue passando em brancas nuvens na imprensa é que, além de comandar o órgão de direção operacional do Exército Brasileiro e de integrar o alto comando da Força, este ilustre visitante de Mauro Cid acaba de exercer interinamente, durante uma semana, na primeira semana de julho, o próprio comando do Exército, durante uma visita oficial do titular do posto, general Tomás Ribeiro Paiva, ao Exército da Alemanha.

Com a palavra, o general Tomás Paiva e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, para dizerem umas palavras sobre se cabe a um general da ativa, do alto comando e apto a comandar o Exército visitar na prisão um colega de farda que conspirou para um golpe de Estado; sobre se o general Estevam Theophilo já foi ou será chamado às falas para explicar o motivo da visita; se foi mesmo “dar uma força ao ex-faz-tudo de Jair Bolsonaro”, como disse Lauro Jardim, ou se foi fazer coisa ainda pior.
O atual comandante do Exército, porém, é o general para quem “é uma coisa burra” tentar fazer a caserna prestar contas ao poder civil, e o atual ministro da Defesa é aquele para quem concentração golpista na frente de quartéis pedindo intervenção militar “é uma manifestação da democracia”.
Com a palavra, então, o presidente Lula.
Família militar
O general Estevam Theóphilo é irmão do também general Guilherme Theophilo, este da reserva. No governo Bolsonaro, Guilherme Theophilo foi secretário nacional de Segurança Pública, escolhido para o cargo por Sergio Moro, então ministro da Justiça. Em 2018, já na reserva e candidato ao governo do Ceará pelo PSDB, Guilherme Theophilo afirmou ao jornal cearense O Povo que “não houve ditadura militar no Brasil”.
Convinha medir o estado dos ânimos no seio da família Theophilo, este núcleo específico da família militar. é que recentemente, ao defender que o Exército tenha orientado Mauro Cid a ir fardado à CPI do 8/1, o ministro José Múcio Monteiro distinguiu os militares brasileiros entre “legalistas” e… golpistas? Não. “Indignados”.
Em janeiro, pouco antes de assumir o Comando do Exército, o general Tomás Paiva disse mais ou menos a mesma coisa em um discurso na caserna: “temos que respeitar o resultado das urnas, mesmo que a gente não goste”.
Trata-se de algo que “passou meio despercebido” também.