Vai, Gasolina!

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Passamos por Gales, em Gotemburgo: 1 a 0. Chegamos em Estocolmo para dar na França de 5 a 2. Eles tinham Jonquet, Panverne, Vincent, Piantoni, Fontaine e Kopa – que jogavam à brasileira. (Vejam só: eram bons porque jogavam à brasileira!) Mas podiam ter Carlos Magno, Joana D’Arc e De Gaulle. Foi, tirante aquele Brasil e Uruguai de 1919, em que Fried quase perdeu o bocal, o jogo mais bonito que uma seleção verde-e-amarela disputou. A tarde estava fria, o sol amarelo dando um banho de mel nos jogadores. Foi lá e cá. Ninguém caiu na defesa.

– Vai, Gasolina!

O passe do “tio” fora tão perfeito que, depois de conferir, o garoto abaixou a cabeça. O “tio” era Jair da Rosa Pinto, em final de carreira. Gasolina era o Dico, meia do Baquinho, de Bauru. A cena se repetiu tantas vezes, naquele ano de 1956, que perdeu a graça. Gasolina queria construir por inteiro os seus gols, nada de receber com açúcar dos outros, de Jair, de Pagão – um dos maiores controladores de bola que a várzea jamais produziu, no nível de Domingos, de Valdemar Brito, de Ipojucan, de Canhoteiro. Acho que Gasolina só se livrou dos tios pouco antes da Copa de 58. Um ano antes, Vasco e Santos fizeram um combinado para enfrentar o Belenenses, português. Gasolina foi escalado num ataque que tinha Iedo, Álvaro, Jair e Pepe. Placar: 6 a 1. Gasolina fez três. O Rio ficou deslumbrado. Quem não viu não acredita: Pelé driblou até o juiz. O Sr. Amilcar Ferreira apareceu na sua frente, depois que ele destroçara, com fúria endemoniada, dois patricios de Salazar. Não hesitou: cortou o juiz, que, tropeçando nas próprias pernas, debaixo de gargalhadas, saiu catando cavaco.

Quando Mr. Guigue trilou o apito, o Brasil era, pela primeira vez, Campeão do Mundo. Nem quando voltaram os pracinhas, em 1945, houve uma festa assim, lembra? A derrota para o Uruguai, em 16 de julho de 1950, que nos entalava a garganta, enfim desceu.

(Trecho do livro “História política do futebol brasileiro”, de Joel Rufino dos Santos. Quando chegou ao Santos, com 15 anos de idade, o menino Dico logo ganhou o apelido de Gasolina por causa da rapidez com que corria na rua para comprar cigarros para os “tios” que fumavam na concentração).

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