O ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira, carimbou como “urgentíssimo” não um, mas dois ofícios por ele enviados na última segunda-feira, 1º, ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luiz Edson Fachin. Um dos ofícios requisita ao TSE a disponibilização para as Forças Armadas dos códigos-fontes do sistema eletrônico brasileiro de votação.
Os códigos-fonte do sistema eletrônico brasileiro de votação estão disponíveis ao milico que interessar possa desde outubro do ano passado. O carimbo de “urgentíssimo” em vermelho-pra-ontem, porém, não foi meramente exposição ao ridículo. A dois meses do primeiro turno, os militares querem criar um clima de que não há tempo hábil para a realização de eleições seguras em outubro.
A urdidura do alçapão é translúcida nos dois ofícios enviados na última segunda-feira ao TSE, e não apenas por causa de carimbos.
No ofício em que requisita os códigos-fonte, Paulo Sergio ressalta o “tempo exíguo disponível até o dia da votação”. No outro ofício, em que reitera a solicitação de um lote de informações técnicas feita pela Defesa ao TSE em junho, o general pontua, pressuroso, que “a ausência das referidas informações poderá prejudicar o desenvolvimento dos trabalhos” da “Equipe das Forças Armadas de Fiscalização do Sistema Eletrônico de Votação”.
As “referidas informações” incluem logs, relatórios, tabelas, arquivos de imagens e de dados relativos às eleições de 2014 e 2018 – aquelas que Jair Bolsonaro diz terem sido fraudadas -, em uma lista elaborada pelos oficiais superiores coronel Ricardo Sant’anna, capitão de fragata Marcus Rogers Cavalcante Andrade e coronel aviador Wagner Oliveira da Silva, representando, respectivamente, os comandos do Exército, Marinha e Aeronáutica.
A direção do TSE parece ter percebido o ardil, marcando já para esta quarta-feira, 3, uma “inspeção” da equipe da Defesa aos códigos-fonte das urnas eletrônicas. É inacreditável, porém, que aparentemente o tribunal não tenha estipulado um prazo, que já deveria ter sido esgotado, para este tipo de procedimento.
“Ainda há tempo para acolhê-las”, dizia o ministro Paulo Sergio em meados de julho, no Senado, antes ameaçador do que “colaborativo”, referindo-se às propostas de mudanças no sistema eletrônico de votação que os militares consideram “essenciais”.
No dia em que a Justiça Eleitoral abriu seus trabalhos no semestre em que serão realizadas as eleições gerais de 2022, chegou da Defesa o “urgentíssimo”. Agora, a semanas das eleições, as “forças desarmadas” transigem com uma “inspeção” tardia de códigos-fontes por Forças Armadas empenhadas em produzir um factoide que confirme junto às forças buliçosas do bolsonarismo, e junto aos pusilânimes, a “narrativa” de que, bem, nós avisamos e agora não há tempo para mais nada.
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