Em novembro de 2017 o repórter Fabio Victor foi recebido pelo então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, no gabinete principal do Forte Apache, em Brasília.
“Deixa em off ou põe em on?”, perguntou o general Villas Bôas aos seus homens de confiança convidados para acompanhar, participar da entrevista, quando o assunto na mesa era um trecho de uma resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PT em 2016, logo após a abertura do processo de impeachment contra Dilma.
Era o trecho em que o partido dizia, diante da derrocada, que os governos petistas deveriam ter atuado para alterar o sistema de promoção das Forças Armadas e o currículo das escolas militares.
Sobre isso, um dos homens de confiança do general Villas Bôas, na época seu chefe de gabinete, animou-se para consignar o seguinte, em on:
“Isso para mim foi o maior erro estratégico do PT, foi uma coisa burra”.
Quem disse isso foi o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que neste sábado, 21, foi nomeado por Lula para render o insubordinado general Julio Cesar Arruda naquele mesmo gabinete principal do Forte Apache. Villas Bôas concordou: “isso nos fere profundamente. Está na nossa essência, no nosso âmago”.
O general Tomás falava com autoridade sobre o currículo das escolas militares brasileiras. Ele era o comandante da Academia Militar das Agulhas Negras quando, em 2014, a Aman abriu seu portão monumental, entre as duas colunas de Hércules, para que Jair Bolsonaro fizesse o discurso de lançamento da sua candidatura presidencial, prometendo aos cadetes “virar o país à direita” em 2018.
A foto abaixo é das coordenadas, por assim dizer, da seção E1 da biblioteca da Aman. Na estante 335, o cadete encontra obras sobre “Socialismo”, o que inclui fascismo e nazismo literalmente na mesma prateleira que sindicalismo – o sindicalismo, por exemplo, de Luis Inácio Lula da Silva.

É como disse o general Villas Bôas, endossando o general Tomás Paiva: “isso está na nossa essência, no nosso âmago”.
Em 2019, o general Tomás foi promovido a general quatro estrelas e sua primeira missão com a mais alta patente da Força Terrestre foi chefiar o Departamento de Educação e Cultura do Exército.
Quatro mãos
No ano passado, Fabio Victor lançou o livro “Poder camuflado: Os militares e a política, do fim da ditadura à aliança com Bolsonaro”, sobre o qual constam as melhores referências. A reportagem de Fabio Victor referida neste artigo foi publicada em março de 2018 na revista Piauí.
Logo depois, no início de abril daquele ano trágico para o país, o general Villas Bôas ameaçou o Supremo Tribunal Federal, via Twitter, com supostas “missões institucionais” do Exército caso o Supremo desse o Habeas Corpus que livraria Lula da prisão e o colocaria na disputa presidencial contra Jair Bolsonaro já nas eleições 2018.
A expressão “repúdio à impunidade”, uma das mais fortes dos dois tuítes golpistas de Villas Bôas, foi um contribuição do general Tomás Paiva àquela primeira de muitas ameaças golpistas partidas do Exército de lá para cá.
De novo, é como disse o general Villas Bôas, endossando o general Tomás Paiva: “isso está na nossa essência, no nosso âmago”.