“Tem alguma coisa a esconder ali?”, disse Anderson Gustavo Torres no 10 de junho de 2022, em Los Angeles, Califórnia, onde participava da Cúpula das Américas. Referia-se, o então ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mais precisamente, Torres se referia ao fato de que naquele dia o então ministro da defesa, general Paulo Sergio de Oliveira Nogueira, enviara um ofício – mais um – ao TSE reclamando que as Forças Armadas não se sentiam “devidamente prestigiadas” pelo tribunal para realizar a “fiscalização” do sistema brasileiro de votação eletrônica.
Naquele dia, a respeito da “fiscalização” das urnas, Anderson Torres proclamou que tanto o Ministério da Defesa como a Polícia Federal iriam “participar de todos os atos, de agora em diante”:
“Existe alguma desconfiança em relação ao Ministério da Defesa? Existe alguma desconfiança em relação à Polícia Federal?”.
Todas.
Dez dias depois, já de volta ao Brasil, Anderson Torres entrou com armas no bombardeio de ofícios que vinha sendo feito pelo Ministério da Defesa contra o TSE.
No dia 20 de junho, Torres encaminhou um ofício ao então presidente do TSE, a Edson Fachin, comunicando que a Polícia Federal iria se dar ao trabalho de “fiscalização e auditoria” das urnas eletrônicas mediante “programas próprios de verificação”.
Em outubro, logo após o primeiro turno das eleições 2022, Anderon Torres determinou à Polícia Federal a abertura de um inquérito para apurar “a prática de crimes perpetrados” pelos institutos de pesquisa.
Na véspera do segundo turno, a Polícia Rodoviária Federal, sob as ordens de Anderson Torres, desencadeou operações em estradas sobretudo do Nordeste para atrapalhar o trânsito de eleitores até os locais de votação.
E por aí vai, com os cumprimentos da impunidade.
Neste sábado, 14, Anderson Torres finalmente foi preso, quando pôs os pés no Brasil em mais um retorno dos EUA. Na casa de Torres foi encontrada uma minuta de decreto presidencial de Estado de Defesa no TSE.
Na minuta, consta que uma “Comissão de Regularidade Eleitoral” que teria dois peritos criminais da PF e seria encabeçada por nada menos que “08 (oito) membros do Ministério da Defesa, incluindo a Presidência”. É quase o mesmo número de militares da Equipe das Forças Armadas de Fiscalização do Sistema Eletrônico de Votação (EFASEV) que, junto, com a PF e a PRF de Anderson Torres, tentou, tentaram atrapalhar o processo eleitoral de 2022.
Na verdade, a tal “Comissão de Regularidade Eleitoral” de alguma maneira já estava em funcionamento, com a dobradinha golpista entre o Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça.
Anderson Torres atuou, afinadinho, com altos militares contra o TSE e as eleições. Altos Militares atuaram com Torres na urdidura da minuta?
É uma pergunta retórica.