Jair Bolsonaro e o líder do governo no Supremo, Kassio Nunes Marques (Foto: Isac Nóbrega/PR).

Além de trágico, o episódio em que três pessoas foram baleadas e duas morreram por causa do choro de uma criança autista, ocorrido no último sábado, 30, em Teresina, no Piauí, é altamente simbólico de um país de atiradores armados e atiçados por um presidente que se exibe ao lado de crianças com fuzis de brinquedo, cujo governo já propôs tratar pessoas autistas com eletrochoques e cujo ídolo político, Donald Trump, já expulsou um bebê e sua mãe de um comício porque a criança estava chorando.

No sábado, em um imóvel familiar da capital piauiense, um CAC (caçador, atirador e colecionador de armas) e instrutor de clube de tiro se irritou com o choro contínuo do sobrinho autista de quatro anos de idade, foi tirar satisfações com o cunhado, que por sua vez se indignou com a atitude. O CAC sacou um revólver e atirou. A bala acertou a babá da criança, que está internada em estado grave. Os dois homens se atracaram. O pai do menino autista foi atingido por outro disparo, na virilha, e morreu. O CAC levou um tiro na cabeça, provavelmente dado por si próprio, acidentalmente, e morreu também.

O CAC tinha 38 anos, um revólver calibe 38, uma pistola Taurus 380 e uma pistola .40. Há um ano, em julho do ano passado, o presidente da Taurus Armas, Salesio Nuhs, presentou Jair Bolsonaro com um revólver calibre 38: “o trigésimo oitavo presidente da República é o 38, trezoitão. Esse aqui é seu. Esse aqui você só precisa de autorização depois. É ativo”.

A polícia do Piauí informa que o CAC já tinha encomendado também um fuzil.

‘Sentou em cima’

Quando o piauiense de Teresina Kassio Nunes Marques foi indicado por Jair Bolsonaro para integrar o Supremo Tribunal Federal, a escolha foi referida por setores da imprensa como um aceno, um afago, um presente de Jair Bolsonaro para o povo do Nordeste.

Em um vídeo publicado em junho último, ao lado de Onyx Lorenzoni, Bolsonaro disse explicitamente que o pedido de vista feito nove meses antes por Nunes Marques sobre os decretos armamentistas do governo tem o objetivo de travar indefinidamente o julgamento da matéria, garantindo a vigência dos decretos:

“Entrou nosso governo e por decretos conseguimos mudar muita coisa. Mas temos um limite, que é o limite da lei. Esses decretos foram judicializados, e tem um ministro do Supremo que pediu vista e sentou em cima dos processos. Então, não vai pra frente. Estão garantidos os nossos decretos”.

O vídeo foi repercutido pelo presidente do Movimento Pró-Armas, o bolsonarista Marcos Pollon, que é candidato a deputado federal pelo Mato Grosso do Sul. Ao compartilhar o vídeo do “sentou em cima” dos decretos armamentistas, Pollon cometeu menos um erro de português e mais um ato falho, embora carente de crase: “sem LIBERDADE não a vida”.

De fato, a “pátria armada” de Bolsonaro, Onyx, Nunes Marques e Pollon é um grande não à vida.

‘O Brasil é nosso’

Desde que o líder do governo no Supremo “sentou em cima” dos processos sobre a política armamentista do governo Bolsonaro, em setembro do ano passado, mais de 300 mil novas armas de fogo foram parar nas mãos dos CACs. No fim do vídeo, Bolsonaro deixou um recado para os CACs: “vamos em frente, que o Brasil é nosso”.

Neste domingo, 31, a repórter Juliana Dal Piva informa, no UOL, que Kassio Nunes Marques ameaça romper com Jair Bolsonaro por causa de… uma indicação de um desafeto do piauiense de Teresina para desembargador do TRF-1.

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