São Paulo, julho de 2020: breque dos trabalhadores de aplicativos (Foto: Felipe Campos Mello).

Grande poeta da Revolução Russa, Vladímir Maiakóvski amava, além da poesia, a classe trabalhadora, o Spartak Moscou, o desenho gráfico, Lília Brik e o jornalismo qualificado, não necessariamente nesta ordem.

Sobre fazer versos, e porventura sobre a prática jornalística, Maiakóvski enfatizou certa vez que “é necessário indicar com precisão ou pelo menos dar a possibilidade de apresentar, sem erro, os traços do rosto do inimigo”.

E arrematou que, por isso:

Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.

“Come Ananás”: o poema de luta, o dístico revolucionário de Maiakóvski que marinheiros revoltosos recitaram em coro quando investiram contra o Palácio de Inverno de São Petersburgo em outubro de 1917.

Vladímir Maiakóvski (1893-1930).

Quase um século mais tarde, em 2016, o poeta Augusto de Campos esclareceu à Folha de S.Paulo algo sobre a tradução que fez de “Come Ananás” durante a ditadura civil-militar no Brasil: “nunca fui comunista, mas não resisti ao trocadilho com Prestes”.

A referência foi a Luiz Carlos Prestes, o histórico secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro; Prestes, que era odiado pela ditadura.

Uma justa peraltice com as palavras, portanto.

Mais do que isso. Ao traduzir do idioma de Pushkin para o de Machado um dos poemas em que Maiakóvski se mostrou mais comprometido, Augusto de Campos não resistiu, na verdade, à indagação profunda da luta de classes.

Come Ananás é um projeto jornalístico assente em fazer a respeito dos fatos esta indagação fundamental, a indagação da luta de classes, sem a qual não há como – nem o quê, quem, quando, onde ou por quê – informar à vera sobre o Brasil e o mundo.

Imparcialmente a favor

Come Ananás se une a outros veículos da imprensa democrática brasileira no esforço para romper o ronrom da mídia comercial, corporativa, esta mídia estribada, por seu turno, na reprodução do senso comum (em vez do ensejo ao senso crítico) e nos postulados da exploração do homem pelo homem (em vez do esclarecimento enquanto vertente para a liberdade).

Come Ananás é, como dizia o saudoso repórter britânico Robert Fisk, neutra e imparcialmente a favor daqueles que sofrem, e o que Horacio Guarany compôs sobre o cantor – e Mercedes Sosa imortalizou – serve também para o jornalista que busca honrar a profissão:

¿Qué ha de ser de la vida, si el que canta
No levanta su voz en las tribunas
Por el que sufre, por el que no hay ninguna
Razón que lo condene a andar sin manta?

Tendenciosamente contra

Come Ananás é tendenciosamente contra este tipo de sociedade que, tendo a mídia mainstream como um pilar, não só embarga o aprofundamento da Democracia, mas também especula, transige, por vezes pactua com as forças que pretendem reduzir a Democracia a pó.

Hugo Souza

Editor e jornalista responsável (26362/RJ).