Há oito anos, em julho de 2015, o então policial militar Guilherme Muraro Derrite foi preso administrativamente por dizer ser “vergonhoso” que um PM do estado não matasse pelo menos três pessoas em um intervalo de cinco anos.
“O camarada trabalhar cinco anos na rua e não ter ma… três ocorrências, na minha opinião, é vergonhoso, né. Mas é a minha opinião, né”, disse Derrite no dia 5 de julho de 2015, quando era 1º tenente da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), em áudio enviado a um grupo de PMs no WhatsApp.
No áudio, Derrite criticava a decisão do Comando da PM de São Paulo de transferir de batalhão o policial que tivesse se envolvido em pelo menos três ocorrências com mortes em um intervalo de cinco anos: “até eu, que estou fora da rua há dois anos, me encaixo”.
Ouça o áudio completo:
Derrite pegou uma prisão administrativa de… alguma horas. Ele foi preso na tarde do dia 6 de julho de 2015. No mesmo dia, à noite, já estava liberado. Na época, governo Geraldo Alckmin, o secretário de Segurança de São Paulo era Alexandre de Moraes. Mais tarde, Derrite foi promovido a capitão. Em 2018, elegeu-se deputado federal por São Paulo, como “Capitão Derrite”, sendo reeleito em 2022. “Bolsonarista raiz”, foi escolhido pelo “bolsonarista moderado” Tarcísio de Freitas para chefiar as polícias do estado.
Em janeiro, em uma entrevista à Folha de S.Paulo, Derrite disse que errou ao afirmar ser vergonhoso para um policial não matar nem 3 pessoas em 5 anos: “não penso dessa maneira”.
Porém, diante do número de 14 pessoas mortas, e contando, pela PM de São Paulo em poucos dias na Baixada Santista, Derrite garante que não houve execuções. Questionado sobre como pode dizer isso antes mesmo de perícias e autópsias, o secretário disse que “se eu não defender o policial, quem vai defendê-lo?”.
Já Tarcísio, o “bolsonarista moderado”, afirmou estar “extremamente satisfeito” com a chacina.
Pela contabilidade feita no privado pelo 1º tenente Guilherme Derrite, que o secretário Derrite publicamente renega, louvável, em vez de “vergonhoso”, seria que os cerca de 80 mil policiais que hoje compõem o efetivo da PM de São Paulo matassem no mínimo 240 mil pessoas a cada cinco voltas que a Terra dá em torno do sol, média de 48 mil por ano.
Tarcísio de Freitas, por seu turno e também por lógica – a da nomeação de Derrite -, talvez só fique plenamente, inteiramente, “extremamente” saciado se a polícia militar paulista tiver produzido 192 mil cadáveres ao fim dos seus quatro anos de mandato.