Em maio deste ano ano, uma bela lufada derrubou uma réplica de uma estátua da liberdade de uma loja da Havan no Rio Grande do Sul. Aquela lufada e o movimento Revolução Periférica, se é que ele existe mesmo, têm em comum que nem um, nem outro foram ou serão the wind that shakes the barley.
Opondo-os, por outro lado, está a faculdade de prever as consequências das rajadas de fúria próprias não de um sudoeste aleatório, mas da ação humana.
A consequência imediata, primeira, do churrasquinho de Borba Gato promovido no último sábado, 24, em São Paulo, foi embaçar outra ação, coletiva, organizada, calculada: a de milhares de pessoas que naquele dia, no país inteiro, voltaram a se expor ao vírus para engrossar o caldo contra o verme.
Ao lograr sobrepor, numa hora dessa, um “Fora Borba Gato” ao “Fora Bolsonaro”, a tal Revolução Periférica se aproxima menos da Revolução Democrática de que o Brasil precisa, improtelável, e mais da “revolução” de Daciolo:
“Tá repreendido! Tirem da nação!”.
Vontade transformadora e serenidade do raciocínio
“Se os iconoclastas são destruidores de ídolos, eu sou um ideoclasta”, dizia Miguel de Unamuno, referido por Ludovico Silva no ensaio “O estilo literário de Marx”.
Marx, aliás, realçava Ludovico, foi “um destruidor de ideias dos mais duros e irados que existiram”. Isso era “parte ativa da sua vontade transformadora”. Era, e ainda é, difícil encontrar quem se lhe igualasse “em matéria de estigmatizar ideias ou personagens do modo mais implacável”.
“Mas conservando a serenidade do raciocínio”.
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