Deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro (Foto: Lula Marques/ Agência Brasil).

Quando Ricardo Salles falou em “ir passando a boiada” do afrouxamento das regras ambientais, naquela famigerada reunião de Jair Bolsonaro com seus ministros em abril de 2020, Salles se referia mais especificamente a passar, no mercado internacional, centenas de milhares de metros cúbicos de laminados de ipê e jatobá feitos com madeira de desmatamento ilegal na Amazônia.

É o que mostra um trecho especialmente chocante da denúncia contra Ricardo Salles feita no dia 19 de agosto pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado no Pará do Ministério Público Federal. Na última terça-feira, 28, a 4ª Vara Federal Criminal do Pará aceitou a denúncia e Salles virou réu, acusado de chefiar uma organização criminosa de exportação de madeira ilegal no exercício do cargo de ministro do Meio Ambiente, no governo Bolsonaro.

“Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas (…) Não precisamos de Congresso. Porque coisa que precisa de Congresso, nesse fuzuê que está aí, nós não vamos conseguir aprovar. Agora, tem um monte de coisa que é só parecer, caneta. Parecer, caneta. Sem parecer também não tem caneta, porque dar uma canetada sem parecer é cana”, disse Ricardo Salles na reunião ministerial de 22 de abril de 2020.

A denúncia do MPF esmiúça o funcionamento do esquema montado por Salles para esquentar madeira ilegal via pareceres e notas técnicas contaminados pela – palavras da denúncia – “técnica anunciada por Ricardo Salles ‘parecer, caneta'”. Segundo o MPF, o esquema envolvia, entre outros, o então presidente do Ibama, Eduardo Bim, e o época diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas do órgão, João Pessoa Riograndense Moreira Junior.

“Foi a aplicação da técnica anunciada por Ricardo Salles ‘parecer, caneta’. A Nota Técnica nº 3/2020 funcionou como ‘parecer’ e o ‘despacho interpretativo’ como ‘caneta’.
Cabe observar que, por seguir a metodologia e as orientações de Ricardo Salles, Eduardo Bim não faria o ‘despacho interpretativo’, que simplesmente dispensava a autorização do Ibama para exportação de madeira nativa de espécies não constantes na lista CITES e tentava legalizar os atos de contrabando anteriores, sem um ato opinativo (um parecer) antes”, diz o MPF.

E segue a denúncia:

“Ricardo Salles disse ‘sem parecer também não tem caneta, porque dar uma canetada sem parecer é cana’. João Pessoa foi essencial para que Eduardo Bim, no ‘despacho interpretativo’, pudesse seguir a metodologia do líder da organização criminosa Ricardo Salles”.

Nesta terça-feira, 29, a deputada Sâmia Bonfim foi didática na sessão da CPI do MST ao enfileirar visualmente os crimes pelos quais responde agora o “RÉUlator” da comissão. Vale a pena assistir:

Vale a pena também ler o que o site De Olhos Nos Ruralistas descobriu sobre “o porto nos EUA que foi palco de operação contra Salles por madeira ilegal”.

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