Com repercussão algo abafada pela vitória de virada do Palmeiras sobre o São Paulo pelo campeonato brasileiro de futebol, o ministro da Justiça, Anderson Torres, entrou em campo na guerra de oficios aberta pelo ministro da Defesa, general Paulo Sergio, contra o Tribunal Superior Eleitoral e em favor da fartamente anunciada tentativa de autogolpe por Jair Bolsonaro e seus milicos amestrados.
Em ofício encaminhado nesta segunda-feira, 20, a Edson Fachin, Anderson Torres comunica ao TSE que a Polícia Federal vai se dar ao trabalho de “fiscalização e auditoria” das urnas eletrônicas mediante “programas próprios de verificação”.
Por seu turno e coturno, e em seu mais recente de muitos ofícios golpistas dirigidos recentemente a Fachin, o general Paulo Sergio, como quem emite um ordem do dia, apontou, nomeou, declarou as Forças Armadas “entidades fiscalizadoras do sistema eletrônico de votação”.
Às 2h40 do dia 2 de abril de 1964 o senador Auro de Moura Andrade, “nesta hora angustiosa da vida brasileira”, procedeu à leitura do mais cínico ofício da história do Brasil, pelo qual declarou Ranieri Mazzilli presidente da República:
“Comunico ao Congresso Nacional que o senhor João Goulart deixou, por força dos notórios acontecimentos de que a nação é conhecedora, o governo da República. Deixou a nação acéfala”.
(E de nada adiantou a leitura prévia, na mesma sessão, de um outro ofício, este do então ministro da Casa Civil, Darcy Ribeiro, informando ao Congresso que Jango estava no Rio Grande de Sul, em esforço de defesa do mandato, “no pleno exercício dos poderes constitucionais”).
Às 15h05 do dia 31 de agosto de 2016 Dilma Roussef recebeu o ofício 1.118 do Senado Federal. Assinado por Ricardo Lewandowski e Renan Calheiros, então presidentes do STF e do Senado, respectivamente, o ofício comunicava à então presidente da República afastada que ela estava definitivamente destituída do cargo, pelo cínico motivo das – que se lembra? – “pedaladas fiscais”.
O golpe contra Dilma teve como nuance que “a máscara da competência fora primeiramente arranhada no episódio envolvendo a compra da refinaria em Pasadena pela Petrobras”, conforme Hélio Bicudo, Miguel Reale Junior e Janaína Paschoal escreveram no pedido de abertura do processo de impeachment.
Por falar em cinismo e Petrobras, em ofício, ou melhor, em artigo publicado no último domingo, 19, na Folha de S.Paulo, e intitulado “Chegou a hora de tirar a máscara da Petrobras”, o presidente da Câmara, Artur Lira, escreveu, ameaçou:
“Não queremos confronto. Não queremos intervenção. Queremos apenas respeito da Petrobras ao povo brasileiro. Se a companhia decidir enfrentar o Brasil, ela que se prepare: o Brasil vai enfrentar a Petrobras”.
Onde se lê “Petrobras”, troque por “TSE”, e talvez tenhamos em primeira mão o texto da próxima peça da guerra dos ofícios sobre as eleições de 2022.
Como na piada dos anões e da lâmpada, para dar um golpe – mais um – os anões morais precisam de apenas um ofício, ao fim e ao cabo: o último.