Posto Ipiranga de Sergio Moro é um ‘Delfim boy’

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Sergio Moro: isso a Globo mostra. Ô, se mostra.

Após passar dias exibindo trechos – longos trechos – do discurso de Moro no ato de sua filiação ao Podemos, a Rede Globo vem agora empanturrando a audiência com excertos da entrevista do marreco de Maringá ao falcão-peregrino do Jardim Botânico, Pedro Bial, o homem que viaja desenvolto, a céu aberto, entre as distantes profissões de jornalista e garoto-propaganda de gestora de criptomoedas.

O mais repercutido desses excertos do bate-papo entre aves migratórias é aquele em que Moro, mais uma vez, mostra que a diferença dele próprio para Jair Bolsonaro é assim algum pudor ante as questões identitárias e a humildade de procurar um fonoaudiólogo para ver se tem alguma chance de não ter que fugir dos debates como os marrecos fogem dos guaxinins.

Trata-se do momento em que Sergio Moro anuncia o seu fiador junto ao touro de ouro da B3, o seu próprio “Posto Ipiranga”, notória que é sua absoluta ignorância em tudo que não seja destruir empresas públicas, empresas privadas, o devido processo legal e processos eleitorais com seu encantado grasnar “anticorrupção”.

Moro repete Bolsonaro ao esticar o braço e apresentar a pulseirinha de controle de acesso, também conhecida como “um dos economistas mais respeitados do país”, ao toro da B3; àqueles que, para esconjurar mesmo o mais pálido projeto nacional-desenvolvimentista, seguem arreganhados para quem o fascio e suástica fazem volume, mal disfarçados, sob os trajes de herói – seja um mito, seja um paladino.

E Sergio Moro repete Jair Bolsonaro até no timing: foi nesta mesma altura pré-eleitoral, em novembro de 2017, que Bolsonaro disse num evento da revista Veja que estava namorando um economista chamado Paulo Guedes, forjado na ultraliberalesca escola de Chicago, e que a coisa caminhava para noivado.

Ah, sim

Ah, sim: o nome do Posto Ipiranga de Sergio Moro, o nome escrito na pulseirinha de Moro, é Affonso Celso Pastore, que foi presidente do Banco Central nos cabos da ditadura, no governo Figueiredo. Quando Pastore entrou no Bacen, em 1983, a inflação no Brasil era de 134,69% ao ano. Quando saiu, em 1985, era de 224,60%.

Affonso Celso Pastore foi convidado para o Bacen pelo então ministro do Planejamento da Ditadura, Antonio Delfim Netto, o impenitente – e impune – signatário do AI-5 que ainda hoje segue pontificando sobre política monetária, e sobre política, em rede nacional.

Delfim Netto: isso a Globo ainda mostra também. Ainda agora, há menos de um mês, no fim de outubro, enquanto áudios mostravam que o Bacen “independente” pede benção ao banqueiro André Esteves antes de mexer na Selic, a mídia “livre” pedia a opinião de Delfim AI-5 Netto sobre taxa básica de juros e perspectivas da economia brasileira.

Affonso Celso Pastore, quando foi presidente do Bacen, na ditadura, era conhecido como “Delfim boy”. Hoje, a rigor, não é Moro que apresenta Pastore ao “mercado”. É o “Delfim boy” que pega Moro pelo braço e diz assim ao capital: “tá comigo”.

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