Se não por mais nada, a vitória de Gabriel Borić na eleição presidencial no Chile deveria ser saudada por todos os democratas, imprensa “a serviço do Brasil” inclusive, porque ela representou o bloqueio, suado, da chegada ao Palácio La Moneda de um pinochetista que, por exemplo, prometeu em campanha “prender pessoas em lugares que não sejam cadeias” – em campos de concentração como os da ditadura de Augusto Pinochet.
Em vez de demonstração, tímida que fosse, de um tiquinho de alívio, por assim dizer; em vez de marcar posição, digamos, pelo “mundo livre”, como tanto ora se faz em relação à chancelaria de Angela Merkel, uma conservadora em fim de mandato na Alemanha, os três maiores jornais do Brasil resolveram noticiar a vitória de Borić no Chile estampando em capa um termo francamente pejorativo, arrancado do léxico bolsonarista e caro à Internacional Steve Bannon, para se referir a Borić: “esquerdista”.
Sempre se poderá alegar a inocente mimetização do leftist anglo-saxão, como se inocente fosse o espraiamento da palavra “esquerdista” no Brasil simultaneamente à conotação de comedores de criancinhas – e das “liberdades” – que Donald Trump fez colar no termo em inglês.
Por que os jornalões brasileiros não desmontam logo essa máscara e tascam de uma vez “esquerdopata” nas suítes de amanhã sobre o resultado da eleição no Chile? Por que não chutar o urinol e adotar o termo cunhado por um notório articulista antipetista para pintar contornos de doença – mental – a todos que cheguem algo perto do (toc toc toc) campo popular?
Curioso. Quando o escancaradamente pinochetista-fascista-ultradireitista-pró-tortura-e-ditadura Jair Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil em 2018, Folha, Estadão e O Globo também sintonizaram no termo para qualificá-lo em suas capas do dia seguinte.
Este: um pudibundo, singelo e frugal “deputado do PSL”…