Membros da diretoria do Instituto Cidadania Digital, que municia a Frente Parlamentar Mista da Economia e Cidadania Digital na defesa dos interesses das big techs no Congresso, têm histórico de ligações com patrocinadores da direita e da extrema-direita internacional e com figuras destacadas da direita e da extrema-direita bolsonarista no Brasil.
Na última sexta-feira, 5, Come Ananás mostrou que o Instituto Cidadania Digital, que atua dentro do Congresso contra o PL das Fake News, é financiado indiretamente por big techs como Google, Meta e Twitter, por intermédio de três entidades de direito privado.
O diretor-executivo do instituto, Felipe Melo França, foi conselheiro-executivo do braço brasileiro da organização transnacional “libertária” Students For Liberty (SFL), que tem matriz nos EUA e é financiada pela Rede Atlas, dos irmãos Koch – bilionários estadunidenses que ajudaram a impulsionar a extrema-direita nos EUA e no mundo precisamente via organizações inocentemente… “libertárias”.
Felipe França é um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL). Quando das jornadas de junho de 2013, França e outros membros do Students For Liberty criaram o MBL para poderem participar das manifestações sem causar embaraços legais para a SFL e seus patronos estadunidenses por financiarem atividade política no estrangeiro.
Foram Felipe França e seus confrades de Students For Liberty Brazil que recrutaram Kim Kataguiri para ser a cara do MBL, movimento que esteve implicado em inúmeros casos de propagação de fake news nos últimos anos. Hoje deputado federal, Kim Kataguiri é um dos membros da Frente Digital.
Felipe França foi assessor parlamentar dos deputados Luciano Bivar, que em 2018 alugou o PSL para Jair Bolsonaro disputar a presidência da República, e Vinicius Poit, do Novo. França era assessor de Poit quando o deputado apresentou, em 2019, um projeto de lei para descriminalizar a injúria e a difamação.
Outro membro da diretoria do Instituto Cidadania Digital com passado de militância no Students For Liberty é Rafael Rota Dal Molin, “Head de Administrativo & Financeiro” do instituto. Ex-1º Tenente do Exército, Rafael dal Molin foi durante cinco anos, de 2017 até o ano passado, diretor da LVM Editora.
LVM são as iniciais de Ludwig von Mises (1881-1973), expoente da Escola Austríaca de Economia, que é o “Posto Ipiranga” de movimentos e organizações de direita e de extrema-direita, como o próprio MBL.
A figura de Mises vem sendo usada como arma política da extrema-direita brasileira. A LVM, por exemplo, ao mesmo tempo que edita obra de Mises e outros autores liberais – ou “libertários” -, como Friedrich Hayek, publica também bolsonaristas como Luis Felipe de Orleans e Bragança, Carla Zambelli, Roberto Motta e Luis Ernesto Lacombe.
Em 2021, ao promover um livro do “libertário” estadunidense Jeffrey Tucker, a LVM convidou leitores a conhecerem “as origens eugenistas do salário mínimo, mostrando como esse tipo de política, que parece bem intencionada, possui as finalidades mais perversas”.
A editora também promove lives com Monark, flerta com o “olavismo” e tem uma parceria com a produtora Brasil Paralelo. Rafael dal Molin também foi diretor, também até o ano passado, do Instituto Mises Brasil, que tem laços com Rodrigo Constantino e recentemente recebeu Ana Paula Henkel em seu podcast oficial.
Luis Felipe de Orleans e Bragança, Carla Zambelli, Roberto Motta, Luis Ernesto Lacombe, Monark, Rodrigo Constantino, Ana Paula Henkel: são todas figuras de proa do bolsonarismo, quase todas em algum momento citadas nos últimos anos em investigações sobre disseminação de fake news na internet.
Rafael dal Molin é ainda fundador do Clube Farroupilha, entidade baseada em Santa Maria (RS) que defende o “anarcocapitalismo”, ou seja, o fim do Estado e o alçamento da propriedade privada como baliza, mediação, régua única para regulação das relações sociais. No fim das contas, é precisamente isso o que querem os que não querem o PL das Fake News e a regulação das redes sociais.