O ator Pedro Cardoso aproveitou a frincha que lhe deram na CNN Brasil para restabelecer o filo, a classe e a ordem da espécie marreco-de-Maringá, que a mídia tenta outra vez transformar em ave sagrada, por causa de um trama assassina do PCC. Na CNN, Pedro Cardoso lembrou que Sergio Moro é nada menos que “uma pessoa que tramou com o acusador para botar uma pessoa na cadeia, e apenas porque nossa Democracia é juridicamente imperfeita ele logrou virar senador da República”.
“Não podemos mais falar do Brasil como se o Brasil não tivesse botado na Presidência da República um torturador, um homem que defende a tortura. E até hoje milhões e milhões de brasileiros defendem um homem que defende a tortura, e nós tratamos esse fato como se ele fosse um fato corriqueiro da nossa vida democrática. Então, quando falarmos de Sergio Moro, é bom lembrar que ele foi Ministro da Justiça de um regime liderado por um torturador. Ou eu estou dizendo uma inverdade?”, arrasou ainda Pedro Cardoso, ao vivo, na CNN.
No que a âncora Raquel Landim fez questão de atualizar, ao vivo, as definições dos “idiotas da objetividade”, de Nelson Rodrigues: “acho que não consta que ele [Bolsonaro] tenha torturado ninguém pessoalmente”.
Imediatamente, Pedro Cardoso lembrou que Bolsonaro, pessoalmente, reincidiu no ato de tortura do coronel Brilhante Ustra a Dilma Rousseff na ditadura. Bolsonaro, disse Pedro, reincidiu na tortura a Dilma quando dedicou ao torturador seu voto pelo impeachment da torturada, em 2016, na Câmara.
Antes de todas estas chapuletadas, Pedro Cardoso havia chamado a atenção para outra natureza, além da de Moro: a dos “debates” nos estúdios de TV da mídia corporativa. “Simula-se – disse Pedro – algo que é muito semelhante a um diálogo, mas que na verdade é uma sucessão de monólogos”.
E a bancada inteira da CNN Brasil quase ergueu-se num salto quando Pedro Cardoso dirigiu-lhe as seguintes sentimentalidades sobre o papel que desempenham tão devotamente:
“Habitei a interseção ideológica possível entre eu e os interesses da TV Globo, mas eu não sou jornalista. A minha matéria prima não são fatos. Eu pergunto para vocês: vocês são pessoas livres? Vocês, quando vão trabalhar, sentem alguma pressão do interesse do capitalista que emprega vocês?”.
Após um infindável breve silêncio no estúdio – tempo para uma intervenção a jato de gerenciamento de crise, e que crise, no ponto eletrônico -, um dos âncoras ignorou a pergunta de Pedro Cardoso e chamou uma entrevista com Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secom.
Na entrevista com Paulo Pimenta, a pergunta de Cardoso seria respondida categoricamente em um programa supostamente jornalístico, mas que se chama, muito significativamente, “arena” – CNN Arena; em uma peça exemplar de como a mídia (eternamente) lavajatista vem se lambuzando na trama do PCC contra Moro, mas também em patinadas do presidente Lula e do próprio Pimenta, para tentar ressuscitar o cadáver político do marreco.
O problema é que, na tela da CNN Brasil, saiu Pedro Cardoso e entrou Agostinho Carrara, o todo atrapalhado personagem de Pedro no seriado “A grande família”. Todo desastrado diante do tribunal do Santo Ofídio de Aragão e Castela montado na CNN Brasil, Paulo Pimenta reduziu a acusação de “armação de Moro” a uma questão de opinião e embananou-se da cabeça aos pés para explicar, ou tentar, a história do imóvel omitido em sua declaração de bens.
No dia seguinte àquele CNN Arena, comentando em uma rede social sua participação no programa, Pedro Cardoso disse que se sentiu em uma “versão amena da Jovem Pan”, e lembrou – e é bom mesmo lembrar – que a Jovem Pan, antes de se armar, impunemente, em emissora francamente golpista, “também teve seus tempos de bem educada”.
No dia do programa, antes de a coisa enveredar para o caso PCC/Moro, Pedro Cardoso deu uma aula de educação para a mídia quando foi chamado a opinar sobre o salário que Dilma vai ganhar na presidência do Banco dos Brics:
Talvez, quem sabe, futuramente, Pedro Cardoso pode dar um bom ministro-chefe da Secom.