É um clássico: um manda, o outro obedece.
Cumprindo ordem de Bolsonaro, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, vem destinando recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para onde apontam os pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura Correia, ambos de um tal Ministério Cristo Para Todos (MEC).
É este o resumo do Preachergate revelado pelo Estadão e pela Folha, e os personagens que dele surgem, surgem – vamos falar português – à moda Fabrício Queiroz, ou seja, como obscuros operadores de um vício que Jair Bolsonaro não consegue largar: desviar recursos públicos para fins particulares.
Nesta meada, há dois anos um do pastores do Preachergate, Arilton Moura, apareceu de repente nomeado para um cargo comissionado no gabinete do líder do MDB na Câmara dos Deputados. Tão de repente quanto fugaz: a nomeação, publicada no dia 20 de maio de 2020, foi tornada sem efeito poucas semanas depois, no dia 23 de junho.

Era um pássaro? Um avião? Não. Era o pastor Arilton Moura, tido como braço direito do pastor Gilmar Santos, lotado e “deslotado” a jato no gabinete do então líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi, quando o MDB ainda era governo e ainda era Centrão.
Em 2020, Baleia Rossi mandou um salve para o pastor Gilmar Santos pelo seu aniversário de 70 anos:
‘Quem estará ao teu lado agora?’
Aquela nomeação de Arilton Moura é especialmente intrigante porque ela aconteceu no meio de uma das maiores feiras livres de cargos do segundo e terceiro escalões do Governo Federal que Brasília já viu; no justo, exato e preciso momento em que Bolsonaro rasgou de vez a fantasia de anti-“toma lá, dá cá” e, entre abril e maio de 2020, o Palácio do Planalto virou local de romaria dos lideres do Centrão, devotos dos mais de R$ 10 bilhões que os cargos tinham livres para investimentos em 2020.
Teve até fila no terceiro andar do Palácio. Bolsonaro queria garantir que teria força para segurar um eventual processo de impeachment.
Baleia Rossi foi recebido por Bolsonaro no dia 22 de abril, semanas antes de Baleia receber o pastor Arilton como seu novo “assistente técnico de gabinete adjunto”.
Vinte e dois de abril, Distrito Federal… alguém na Praça dos Três poderes põe para tocar “O descobrimento do Brasil”, de Renato Russo e Marcelo Bonfá e do álbum homônimo, o sexto da Legião:
Quem está agora ao teu lado?
Quem para sempre está?
Quem para sempre estará?
De modo que um dos cargos mais cobiçados naquela esbórnia, a direção do FNDE – o FNDE do Preachergate, órgão que tem orçamento da ordem de R$ 50 bilhões -, ficou com o PL, hoje o partido de Bolsonaro. O novo diretor do fundo seria um velho chefe de gabinete de Ciro Nogueira, que mais tarde viria a ser chefe da Casa Civil de Bolsonaro. Na Casa Civil, no Palácio do Planalto, Ciro também se reuniu com os dois pastores do Preachergate. Há fotos:



Nas fotos aparecem ainda um terceiro pastor do Ministério Cristo Para Todos, Wesley Costa, e o deputado federal bolsonarista João Campos, do Republicanos de Goiás e ligado à Assembleia de Deus, da qual o Ministério Cristo Para Todos é uma ramificação. A agenda oficial de Ciro Nogueira para o dia do encontro, 8 de dezembro de 2021, informou reunião apenas com João Campos.
O deputado também levou o pastor até a ministra Damares Alves:

Estes são os pastores Gilmar Santos e Wesley Costa com Jair Bolsonaro:

Estes são os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura com Bolsonaro e o general Luiz Eduardo Ramos:

‘Obrigado por ajudar na disputa do poder’
Aos porcos, ou melhor, ao MDB, Bolsonaro atirou naquela esbórnia de 2020 um posto no conselho de Itaipu Binacional, que foi ocupado pelo indefectível Carlos Marun. O partido não demoraria para desembarcar tanto do governo quanto do Centrão, o que dá quase no mesmo.
Em 2020, além de Baleia Rossi e outras figuras de Brasília, Flavio Bolsonaro também parabenizou o rei do MEC por seu jubileu de platina, “em nome de toda a minha família, agradecendo tudo o que o senhor faz não por nós, mas pelo nosso Brasil. A mensagem aqui é de agradecimento ao senhor por estar do nosso lado. A gente não faz nada sozinho. Sem pessoas como o senhor a nossa guerra pela disputa do poder em Brasília sem dúvida seria muito mais complicada”.