Às vésperas da deflagração da Operação Lava Jato, a firma “papa-falências” americana Alvarez & Marsal, atual empregadora de Sergio Moro, nada menos que dobrou o número dos seus funcionários no Brasil, para 70 profissionais especializados em “captar contratos de empresas em desafio”.
A informação está, estava ao deus-dará em matéria publicada no dia 17 de fevereiro de 2014 no jornal O Estado de S.Paulo. O título da matéria é “Uma consultoria que ganha na maré baixa“.
“A consultoria Alvarez & Marsal, que tem mais de 30 anos de mercado e ficou conhecida ao assumir a administração do banco Lehman Brothers após a falência da instituição, dobrou o tamanho de seu escritório brasileiro no ano passado, que hoje tem 70 profissionais (no mundo, a empresa tem 2,5 mil funcionários e fatura cerca de US$ 1 bilhão ao ano). Como a consultoria é conhecida por salvar negócios em má situação, isso pode ser visto como um sinal de que a atual condição das empresas brasileiras não é das melhores”, diz a matéria do Estadão.
Um sinal, hein?
Exato um mês depois da publicação da matéria, começava a Lava Jato em Curitiba, em 17 de março de 2014. Ainda segundo o Estadão, além de dobrar a equipe, a Alvarez & Marsal pretendia contratar ao longo de 2014 outros 30 consultores para auxiliar empresas quebradas.
O Estadão dava conta ainda de que na semana anterior, na primeira quinzena de março de 2014, um dos fundadores da Alvarez & Marsal, Bryan Marsal, tinha visitado a representação brasileira da empresa pela primeira vez desde a inauguração da A&M Brasil, feita dez anos antes, em 2004.
A visita inédita e os investimentos dobrados, segundo o jornal, foram porque Bryan Marsal, ex-presidente do Lehman Brothers, acreditava num “ciclo de baixa” do Brasil, o que seria bom para os (seus) negócios, ainda que a economia brasileira tivesse crescido 2,3% em 2013 e por mais que as perspectivas, na época, fossem de que o país caminhava para se tornar a quinta economia do mundo.
Às vésperas também
No dia 19 de novembro de 2013, também vésperas da deflagração da Lava Jato, o então procurador-geral adjunto dos EUA, James M. Cole, disse assim na 30ª Conferência Internacional sobre a Lei de Práticas de Corrupção no Exterior (FCPA, na sigla em inglês) do Departamento de Justiça dos EUA (DOJ):
“No mês passado, o chefe de nossa unidade FCPA ajudou a liderar uma sessão de treinamento de promotores na Cidade do México e, nesta semana, estamos participando de outra sessão de treinamento, no Brasil”.
Naquela altura, um dos promotores da unidade FCPA do DOJ era Steve Spiegelhalter. O tempo passa, o tempo voa, e Spiegelhalter foi contratado pela Alvarez & Marsal um mês e meio antes de a Alvarez & Marsal contratar Sergio Moro, no fim de 2020.
O currículo de Steve Spiegelhalter no site da Alvarez & Marsal dá conta de que o doutor “treinou promotores estrangeiros e agentes da lei em técnicas para melhor promover as investigações de corrupção corporativa e individual”.
Foi precisamente Spiegelhalter, agora “líder da área de Investigações da América do Norte” da A&M, um dos dois entre mais de 600 sócios-diretores da consultoria que se adiantaram em dar publicamente a Moro as boas-vindas à casa:
“Nos esforçamos para incorporar em nossas investigações a experiência exclusiva de nossos diretores administrativos em termos de regulamentação, processo e aplicação da lei — direcionando o foco no que é importante para os reguladores, aumentando a eficiência e reduzindo custos. A experiência de Sergio como ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, somado à sua extensa bagagem em anticorrupção, crime do colarinho branco e lavagem de dinheiro, contribuirá para solucionar os problemas dos clientes”.

‘E nós que achávamos…’
A Alvarez & Marsal administra a recuperação judicial da Odebrecht, trabalho pelo qual a firma deve receber, ao todo, cerca de R$ 20 milhões.
A recuperação judicial da Odebrecht é consequência direta da Lava Jato, da qual Moro foi não exatamente juiz imparcial, mas chefe da acusação com poder de dar sentença, como demonstram as mensagens vazadas que levaram o Supremo Tribunal Federal a declarar a suspeição do ex-juiz nas ações penais em que ele condenou o ex-presidente Lula.
Como informa, a propósito, a nota pública da Alvarez & Marsal, de novembro de 2020, sobre a contratação de Sergio Moro, que foi apresentado pela firma como “especialista em liderar investigações anticorrupção complexas e de alto perfil”.
Na época, o advogado criminalista Nilo Batista pontuou: “e nós que achávamos que ele houvera sido ali magistrado, e não investigador, e nem líder de investigações do MPF”.
Urca, Frade, Arpoador e Guarapari
E calhou de ser exata e precisamente no aniversário de sete anos da Lava Jato, 17 de março último, que a 1ª vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo mandou suspender os pagamentos da Odebrecht à Alvarez & Marsal, por motivos de Sergio Moro. A Odebrecht, porém, não é a única empresa brasileira quebrada via Lava Jato que recorreu aos serviços da Alvarez & Marsal.
A miríade vai desde a Alumini Engenharia, fornecedora da Petrobras contratada ainda em janeiro de 2015, passando pela OAS do triplex do Guarujá e chegando à Sete Brasil, de cujo plano de recuperação elaborado pela A&M fez parte a alienação por US$ 296 milhões de quatro sondas de águas profundas construídas para fins de exploração soberana da camada pré-sal pela Petrobras.
Urca, Frade, Arpoador e Guarapari. São estes os nomes da sondas alienadas depois de construídas para exploração soberana do pré-sal pelo Brasil – o Brasil que era vidro e se quebrou, por motivos, entre outros, de Sergio Moro.