Desde as 21 horas da última quinta-feira, 16, aniversário de nascimento de dona Canô, está disponível no Spotify e que tais a mais nova música de Caetano Veloso, “Anjos Tronchos” – do Vale do Silício -, um poema melancólico sobre um mundo hiperconectado que não cumpriu sua autoprofecia de “ser virtuoso no vício”, e no qual “palhaços líderes brotaram macabros, no império e nos seus vastos quintais”:

Um post vil poderá matar
Que é que pode ser salvação?
Que nuvem, se nem espaço há
Nem tempo, nem sim nem não
Sim: nem não

A música “Anjos Tronchos” chega 25 anos após o lançamento de “Pela Internet”, canção do grande parceiro musical de Caetano, Gilberto Gil. Ao contrário de “Anjos Tronchos”, “Pela Internet” espelhava uma positividade algo cândida, reinante à época, quanto às possibilidades – de jubilosa aldeia global, de democratização – que se abriam com a “vazante da info-maré”, da web, da “teia”, sem propriamente levar em conta as aranhas venenosas:

Criar meu web site
Fazer minha homepage
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada e um barco que veleje

Que veleje nesse info-mar
Que aproveite a vazante da info-maré
Que leve um oriki do meu velho orixá
Ao porto de um disquete de um micro em Taipé

Por mais que houvesse lá, em “Pela internet”, a referência a um chefe de uma “Mac-milícia de Milão”.

De Milão, hein?

Melancolia, alegria

“Pela Internet” foi lançada no dia 14 de dezembro de 1996 no UOL e no site de Gilberto Gil. No dia seguinte, foi espalhada pelas rádios, que receberam um CD promocional, e disso hão de rir-se, um quarto de século depois, os jovens hábeis em espalhar todos os dias pilhas de notícias falsas – milícias digitais a serviço de palhaços macabros.

E se “Anjos Tronchos” fala em impérios com “controles totais”, fala também em “poemas como jamais ou como algum poeta sonhou nos tempos em que havia tempos atrás”, e repete, na melancolia, os versos de “Alegria, Alegria”:

E eu vou, por que não?
Eu vou, por que não? Eu vou

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