'Virada na política', 'mudança de regime', 'se Lula não morrer'
Seis décadas após o golpe militar apoiado por banqueiros, parece que os banqueiros estão, muitos deles, no modo soldado 939 Lazari: continuam de prontidão.
Em junho de 2022, o então presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., divulgou um vídeo no qual falava sobre “o privilégio que foi servir ao nosso Exército Brasileiro” quatro décadas antes, em 1982, quando se apresentava todos os dias como “soldado 939 Lazari ao seu comando!” no 39º Batalhão de Infantaria Motorizada, em Osasco, região metropolitana de São Paulo.
Mas Lazari não ficou apenas na muito significativa conversa de que o princípios do quartel “foram fundamentais para que eu pudesse construir a minha carreira no mercado”. Com as eleições de 2022 se aproximando, justamente no momento em que as Forças Armadas escancaravam sua adesão ao bolsogolpismo, o então presidente do Bradesco encerrou o vídeo apresentando-se ao Exército outra vez, 40 anos depois: “o soldado 939 Lazari continua de prontidão”.
Em ano eleitoral anterior, 2018, o presidente do Bradesco anterior a Octavio de Lazari Jr., Luiz Carlos Trabucco, não chegou a se gabar do “privilégio” de quem serviu ao Exército Brasileiro na vigência da ditadura militar, mas foi logo avisando aos bons entendedores, logo em janeiro daquele ano, ainda na vigência do golpe de 2016 contra Dilma Rousseff: “a reforma da Previdência é mais importante que as eleições”.
Quatro anos antes, às vésperas das eleições de 2014, outro banco, o Santander, enviou um e-mail aos seus clientes “select” projetando que se Dilma Rousseff subisse nas pesquisas, rumo è reeleição, deixando Aécio Neves para trás, o índice Ibovespa iria despencar. Na época, Dilma classificou o atrevimento do Santander como “inadmissível”. O banco pediu desculpas e demitiu a analista responsável pelo envio do e-mail, mas agora, mais de 10 anos depois, voltou a confabular com clientes endinheirados por uma troca de governo no Brasil.
Semanas atrás, em meados de fevereiro, o Santander andou soprando nos ouvidos de “investidores” que, caso se vislumbre uma “virada na política” brasileira para “uma administração mais pró-negócios”, o índice Ibovespa poderia subir 45% até o final de 2025. A eleição no Brasil, porém, é só em 2026. De modo que parece incitação do capital financeiro a mais um golpe de Estado. Mas, segundo a imprensa, seria apenas o Santander buscando “estressar as análises para projetar o efeito de uma possível alternância de poder na cotação dos ativos”.
Agora, nesta segunda-feira, 10, um documento do banco estadunidense J.P. Morgan classifica a aproximação das eleições de 2026 no Brasil (ainda que falte um ano e meio para as eleições) como um “fator de atratividade” para o rentismo por causa da “possibilidade de mudança de regime” no país.
O J.P. Morgan, que fala abertamente em “mudança de regime” no Brasil e cujo presidente classifica Elon Musk como “nosso Einstein”, tem sede no número 210 da Park Avenue, em Nova York, mas está aqui também, no número 3.729 da Faria Lima, na Febraban e com seus 46% de participação no C6 Bank, banco digital com sede nos Jardins, em São Paulo, e fundado por egressos do BTG Pactual.
Foi, aliás, num evento recente do BTG Pactual que o presidente do conselho de administração da SPX Capital, uma das maiores gestoras de investimentos do Brasil; foi num evento recente do BTG, na frente de André Esteves, que Rogério Xavier desejou nestes termos, também ele, uma “mudança de regime” no Brasil a partir das próximas eleições:
“Lula e Brizola são a mesma coisa. A gente larga de 25%, 30% de voto na esquerda, se [Lula] não morrer. E eu espero que não morra. Eu não desejo a morte de ninguém. Desejei a do Brizola, foi a única pessoa na minha vida que eu desejei. Aquilo realmente destruiu o Rio de Janeiro. Esse eu realmente falei: não é possível que esse cara não morra… E não morria…”.
Leonel Brizola foi eleito governador do Rio de Janeiro em 1982, mesmo ano em que Octavio de Lazari Jr. serviu no 39º Batalhão de Infantaria Motorizada. Quando disse o que disse, Rogério Xavier arrancou gargalhadas de André Esteves e de toda a plateia. Seis décadas após o golpe militar apoiado por banqueiros, parece que os banqueiros estão, muitos deles, no modo soldado 939 Lazari: continuam de prontidão.