Sobre os ataques de Israel ao Líbano/O Livro de Joel
No dia em que o bolsonarista "moderado" que rima com Israel defendeu na TV brasileira os ataques de Israel ao Líbano, morreu no Líbano, num ataque de Israel, um brasileiro de 15 anos de idade.
“Uma coisa eu prometo a vocês: não descansaremos até que eles retornem para casa".
A frase acima, dita nesta quarta-feira, 25, seria imediatamente percebida pela mídia e pela comunidade internacionais como ameaça de atentando terrorista caso tivesse saído da boca de um líder do Hamas ou do Hezbollah, numa eventual referência aos dois grandes deslocamentos forçados de árabes, principalmente de árabes-palestinos, para que Israel fincasse bandeira em suas terras: a Nakba (catástrofe), em 1948, e a Naksa (revés), em 1967.
Mas a frase foi dita por Benjamin Netanyahu, o terrorista de estimação da mídia e das potências ocidentais cujos atentados diuturnos que já mataram mais de 40 mil pessoas na Faixa de Gaza em menos de um ano, a maioria mulheres e crianças, são noticiados e referidos como “guerra entre Israel e o Hamas”.
De modo que, por exemplo e poucas horas depois do pronunciamento de Netanyahu, um bolsonarista “moderado” e de estimação da Folha de S.Paulo e da Globo News já ecoava “Bibi”, dizendo na Globo News que Israel não poderia “ficar assistindo a 70 mil israelenses serem deslocados do norte” por causa dos foguetes e drones lançados pelo Hezbollah. “Palavra do Senhor dirigida a Joel, filho de Petuel” (Joel 1:1, Antigo Testamento).
Uma defesa, portanto, da matança de mais de 600 libaneses, incluindo 50 crianças, em dois dias de bombardeios de Israel ao sul do Líbano. Não só libaneses: no dia em que o jovem bolsonarista “moderado” que rima com Israel defendeu na TV brasileira os ataques de Israel ao Líbano, foi morto no Líbano, num ataque de Israel, um adolescente brasileiro de 15 anos de idade.
Há quase um ano, no dia 14 de outubro de 2023, uma semana depois dos ataques do Hamas a Israel, na mesma Globo News, Demétrio Magnoli defendeu a “resposta devastadora” de Netanyahu na Faixa de Gaza quando já eram mais de 700 as crianças mortas em Gaza pelos mísseis das IDF. Hoje, já são mais de 16 mil.
Os israelenses que deixaram o norte de Israel por causa dos ataques do Hezbollah a assentamentos e bases militares sionistas saíram das regiões da Alta Galileia e Colinas de Golã. Nem a maior parte da Alta Galileia nem um centímetro sequer das Colinas de Golã constavam como território do Estado judeu no plano de partilha da Palestina aprovado pela ONU em 1947, à revelia dos povos árabes, e que deu origem ao Estado de Israel.
Dito de outra maneira: a maior parte da atual região de fronteira entre Israel e Líbano foi tomada aos árabes na base da bala e do canhão - a Alta Galileia já em 1948, na Guerra Árabe-Israelense, que resultou na Nakba; as Colinas de Golã em 1967, tomadas da Síria na Guerra dos Seis Dias, que resultou na Naksa.
Na Nakba, 750 mil palestinos foram expulsos de suas casas e terras pelo sionismo. Na Naksa, outros 300 mil. Muitos filhos, netos e bisnetos desses refugiados - muitos mesmo, 40 mil deles - foram mortos ao longo dos últimos 12 meses na estreita faixa de terra, de Gaza, onde eles foram confinados ao longo de sete décadas e meia de limpeza étnica da Palestina.
Falar em “israelenses deslocados do norte” é mais ou menos como falar em “Wehrmacht deslocada de Paris”.
No sul do Líbano, além de mais de 600 mortos, já são, aí sim, mais de 90 mil deslocados pela máquina mortífera de Israel. Que dirá sobre eles o bolsonarista “moderado” que a Globo News arranjou para tirar Magnoli da solidão? Talvez diga como Ziffel a Kalle nas “Conversas de refugiados”, de Bertolt Brecht, quando viu num jornal uma notícia sobre o avanço da Alemanha na França:
“Tudo aquilo que tem pernas sai correndo. Seus habitantes empreendem a fuga sem nenhum escrúpulo”.