Sobre o 'caso' Duailibi
E sobre a postura de Fernando Haddad, rara em ministros da Fazenda, de abraçar tão apaixonadamente, publicamente, uma pauta justa, concreta e expressiva das classes trabalhadoras.
A jornalista Julia Duailibi, da Globo News, vem sendo massacrada no bolhão do campo democrático nas redes sociais. O motivo é que a Julia, entrevistando Fernando Haddad na última quinta-feira, 20, supostamente “defendeu os super-ricos” contra a proposta do governo Lula de taxação de altos dividendos.
De fato, inicialmente, Julia Duailibi não apresentou da maneira mais coerente o seu questionamento ao ministro da Fazenda. Pelo contrário. Na sequência, porém, fica claro - muito claro, aliás - que a jornalista queria saber de Haddad como o governo pretende viabilizar a proposta no Legislativo, tendo em vista o poder de pressão da fração mais rica dos filhos deste solo e à luz deste Congresso que aí está, mais que nunca a serviço dessa minúscula fração.
E isso fica claro até mesmo nos recortes da entrevista produzidos para trucidar a entrevistadora, no pior estilo Pablo Marçal. Como este:
Julia Duailibi encaminhou da maneira mais adequada o seu ponto? Não. Julia Duailibi deu margem a deturpações e histrionismos de recorte? Deu. O campo democrático deveria ser dado a deturpações e histrionismos de recorte, como o lado de lá? A princípio, não, mas parece que já nem sobre isso estamos entendidos.
Julia Duailibi é uma jornalista decente. Pelo menos tem sido. É das raras que têm se comportado com seriedade, serenidade e correção possíveis na mídia corporativa nestes ásperos tempos.
No entanto, alguns dos que ora a atacam ferozmente, quiçá fãs neófitos do “Tio Rei” Reinaldo Azevedo e tietes do ministro de Temer indicado pelo golpista para o STF - hoje crush da Democracia -, preferem vasculhar o Google atrás dos pecados da Julia no passado, para incrementar e justificar os ataques do presente. No presente, está no Globo Play o documentário A Democracia resiste, o mais importante trabalho jornalístico sobre o 8/1, dirigido por Julia Duailibi e Rafael Norton.
Julia Duailibi é alguma guerreira do povo brasileiro? É alguma revolucionária? Isso é tão provável quanto Vladimir Ulianov ou Ernesto de la Serna terem tornado a encarnar entre os promotores de autos-de-fé nas redes sociais, estes que induzem a erro pessoas de boa fé. Em grande parte, aliás, são os mesmos que recebem como sacrilégio e reagem agressivamente, feito o inquisidor geral de Aragão, às cobranças pela esquerda ao governo Lula, em comportadíssima rendição à “correlação de forças”.
Pois neste momento de “correlação de forças” desfavorável, como tanto insistem, acham uma boa ideia pintar a Duailibi como um Camarotti, um Valdo Cruz, Ana Flor, Pontual, Magnoli, se não pior que uma Cantanhêde; farinhas do mesmo saco porque, afinal, trabalham na “Rede Goebbels”, e eis aqui a sentença final e definitiva de que se prestam todos diligentemente ao serviço do demônio.
“É a demonstração mais cabal de quem não consegue ter discernimento”, escreveu Sylvia Moretzsohn no Facebook a respeito dos que decidiram investir ferozmente contra Julia Duailibi.
Marcelo Lins e Flávia Oliveira - decentes, sérios, serenos e corretos - que se cuidem, porque também trabalham na “Rede Goebbels” e, carregando este sinal inequívoco de disposição à bruxaria, e à primeira palavra mal colocada, podem virar os próximos alvos dos candidatíssimos a Torquemadas e Bernardos Guis de sinal invertido.
Dito tudo isso, feita esta reflexão, é digna de nota a postura de Fernando Haddad na mesma entrevista na Globo News (da qual participaram também o Valdo Cruz, a Ana Flor…) quanto à taxação dos grão-rentistas. Raramente - para não dizer nunca - se viu um ministro da Fazenda dos governos do PT (dos outros governos, nem se fala) abraçando tão apaixonadamente, publicamente, uma pauta justa, concreta e expressiva das classes trabalhadoras.
A taxação dos mais ricos para aliviar as classes trabalhadoras, aliás, seria uma bela oportunidade para uma campanha a sério, de governo, para pressionar o Congresso bandido, para exigir desse Congresso a aprovação da proposta sem desfiguração. Uma campanha a sério, de enfrentamento, mobilização, pressão, em vez das sidonices da vida, inclusive para tentar “virar a chave”, tentar romper com a chantagem permanente imposta ao Executivo pelo Poder Emendas Pix.
Para tentar.
Como disse, aliás, brilhante, o próprio Haddad na famigerada entrevista sobre os super-ricos e o Congresso super disposto a barrar sua taxação e a boicotar o governo Lula:
“Se é muito difícil alterar, eu vou jogar a toalha, eu vou manter esse país injusto, eu vou passar pelo Ministério da Fazenda depois de tudo o que eu estudei na vida e não vou tentar alterar o status quo? Eu vou reconhecer a força, a potência de 1% da população e vou me render? Me ajoelhar? Não dá pra ser assim”.
Boa tarde
Tutameia....
Meus quase 30000 de irpf estão se contorcendo com tamanha "cara de pau" ...
Vida longa ao Corajoso Ministro.
Simbora PT
Comparou a Dualibi com dezenas de pessoas. A troco do quê? Só esqueceu de contar quantas vezes ela interrompeu o ministro. Só esses atropelos já rebaixam a entrevistadora.