'RIP': a agonia de praticamente não ter em quem votar
Nenhum político progressista foi eleito, nem para prefeito, nem para vereador, na região do estado do Rio de Janeiro conhecida como "novo ABC". Também, quase nenhum se candidatou.
Rebobinando para março de 2021, pior mês da pandemia de covid-19 no Brasil, com 75.319 mortos. Naquele mês, o empresário Luciano Hang, dono da Havan, esteve no município de Resende, no Sul Fluminense, para inaugurar uma loja da rede. Naquela feita, o Véio da Havan gravou um vídeo na frente da loja, na beira da Via Dutra, com o prefeito da cidade, o jovem Diogo Balieiro Diniz, então filiado ao DEM.
No vídeo, gabaram-se os dois, às risadas, dessa “coisa muito engraçada” de que Resende nunca tinha eleito um político do Partido dos Trabalhadores.
Em 2023, Diogo Balieiro foi para o PL, com direito ao genocida Jair Bolsonaro comparecendo ao ato de sua filiação, na sede do partido, em Brasília. Neste domingo, Balieiro elegeu seu sucessor em Resende, Alexandre Sergio Alves Vieira, vulgo Tande, provavelmente por causa da parecença com o ex-jogador de voleibol. Tande foi o secretário da Saúde da gestão Balieiro durante a pandemia.
Agora, em 2024, havia em Resende 13 candidatos do PT a vereador. O partido também lançou um candidato a prefeito - Valdo Gomes. A “maldição” deu as caras: nenhum candidato a vereador pelo PT, nenhum sequer do campo progressista, nenhunzinho foi eleito em Resende neste domingo, 6. Para prefeito, o sósia do medalha de ouro em Barcelona foi eleito com 45 mil votos. O petista Valdo Gomes amealhou o apoio de não mais que 1.410 resendenses.
Na vizinha Itatiaia, jovem cidade nascida em 1989 da costela de Resende, não havia um candidato sequer a vereador do PT para os eleitores votarem neste domingo. Este editor do Come Ananás, eleitor de Itatiaia, procurou um, já que meu voto para prefeito era de uma candidata do Psol. Não encontrei e votei em uma candidata a vereadora do Psol também, Jéssicka Silveira. Jéssica teve 57 votos, incluindo o meu. A candidata do Psol à prefeitura de Itatiaia teve 196 votos. Incluindo o meu…
E se emancipou mesmo, politicamente, Itatiaia? Um dos candidatos a prefeito da cidade, o do PL, foi às urnas com o nome “Kaio do Diogo Balieiro”. E venceu. E venceu com uma vantagem de 136 votos para o segundo colocado.
Ainda que tenham eleitorados relativamente diminutos, Resende e Itatiaia não são nenhum cu de Judas, não são exatamente um “rincão”. Situados à beira da Via Dutra, a meio caminho entre as duas maiores cidades do país, Resende e Itatiaia formam junto com o município de Porto Real um pólo industrial que tem até sigla, posto que agourenta - RIP (Resende, Itatiaia, Porto Real) -, e já foram chamados até de “novo ABC”. Aqui, à beira da Dutra, há fábricas da Volkswagen, Nissan, Hyundai, Jaguar Land Rover, Michelin, Proctor & Gamble, Votorantim, Coca-Cola, etc.
São cidades proletárias, em português, digamos, arcaico.
Em Resende fica ainda a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), que cuspiu para o Brasil de Jair Bolsonaro a Augusto Heleno; que escarrou para o país de Braga Netto a Eduardo Pazuello, passando pelo general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, o ex-ministro dos Ataques às Urnas Eletrônicas. Em Itatiaia fica o primeiro Parque Nacional do Brasil, que teve 300 hectares de campos de altitude destruídos em junho num incêndio iniciado, pasmem, por militares da Aman.
Em tempo: em Porto Real tampouco havia candidato do PT em quem votar para vereador neste domingo, nem tampouco do Psol. PCdoB? Nem pensar. Mas havia no menu 12 candidatos do PL de Bolsonaro. Dois foram eleitos para a Câmara da cidade, que tem 11 cadeiras. Tampouco havia candidatos a prefeito do campo progressista em Porto Real. Aqui, no “novo ABC”.
Aqui, no “novo ABC”, nenhum político progressista foi eleito neste domingo. Nem vereador, nem prefeito. A não ser que se considere progressista um ou outro oportunista interiorano filiado ao ex-PDT.
“RIP”…
Quantos progressistas do Brasil não se viram na mesma situação neste domingo: sitiados pelo bolsonarismo, pelo militarismo, pelo armamentismo, pelo pentecostalismo, por todos os “ismos” da nossa Grande Marcha Para Trás, praticamente sem ter em quem votar, mesmo em cidades proletárias?
Capilaridade é isso, trabalho de base é isso… E, nisso, ficaremos de novo, agoniados, fazendo figa, à espera dos votos do Nordeste nas eleições gerais de 2026, rezando para nosso padinho padre Ciço para que algum André Fernandes, golpista, fascista que vai para o segundo turno em Fortaleza com 40% dos votos - 10 pontos percentuais a mais do que projetavam as pesquisas -, rezando, repetindo, para que algum André Fernandez não jogue água na nossa latinha de guaraná Jesus.