Rio Preto em chamas
Sabe o que dizem sobre Guilherme Derrite ter sido expulso da Rota, no passado, por ser muito violento? Que é como ser expulso da Klan por ser muito racista.
Quando os agentes do FBI Alan Ward e Rupert Anderson estão chegando ao condado de Jessup, no Mississippi, no filme Mississippi em chamas, Anderson, no banco do carona, canta assim para Ward, que estava dirigindo:
“Agora ouçam, seus comunistas, pretos e judeus/Digam para seus colegas espalharem a notícia/O dia do julgamento final está próximo/Pois o Senhor, em sua sabedoria, olha do firmamento/Sua batalha está perdida por misturarem as raças/Queremos lindos bebês, não com rosto marrom/Nunca, nunca, nunca eu vou deixar/Pois a Ku Klux Klan está aqui para ficar”.
Rupert Anderson, interpretado pelo recém-falecido Gene Hackman, não era um supremacista com distintivo. Ele tinha achado uma folha com letra e partitura da música da Klan entre o material que os agentes levavam para Jessup, para ajudar na investigação sobre o desaparecimento de três ativistas dos direitos civis.
Em Jessup, os policiais locais queimavam cruzes, espancavam pretos, matavam e ocultavam os cadáveres de ativistas dos direitos civis. Jessup, na verdade, é um condado fictício. A história de Mississippi em chamas é baseada num caso real ocorrido no condado de Neshoba, no interior do Mississippi, em 1964.
Nesta semana, na cidade bem real de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, supremacistas com distintivo lotados no 9° Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), por certo adoradores do golpe de 64, foram filmados com o braço direito estendido, mão espalmada para baixo, fazendo a saudação nazista diante de uma cruz em chamas.
Corrigindo: filmaram-se fazendo o ritual supremacista e postaram o vídeo nesta terça-feira, 15, no Instagram do 9° Baep. Depois, apagaram.
“A Ku Klux Klan está aqui para ficar”.
O comando da Polícia Militar de São Paulo - de Guilherme Derrite, de Tarcísio de Freitas - classificou o ritual da Ku Klux Klan realizado dentro de um batalhão como “manifestação de intolerância” e disse que vai investigar “as circunstâncias” em que ela ocorreu.
Até hoje não se sabe as circunstâncias sob as quais o 9° Baep “estreou”, em 2019, matando 10 pessoas em cinco dias logo após ser inaugurado; após os policiais que iriam atuar no 9° Baep passarem por treinamento “padrão Rota”.
Sabe o que dizem sobre a Rota? Que é a “polícia que mata”.
Sabe o que dizem sobre os Baeps? Que são a “Rota do interior”.
Sabe o que dizem sobre Guilherme Derrite, sobre Derrite ter sido expulso da Rota, no passado, por ser muito violento? Que é como ser expulso da Klan por ser muito racista.
Sabe o que dizem sobre o Grande Mago dos Cavaleiros Paulistas da Ku Klux Klan? Que é um “bolsonarista moderado”.