'Questões ideológicas': o ministro que tentou assinar um contrato por cima de 44 mil cadáveres
Ventríloquo dos militares, José Múcio foi à CNI chorar a suspensão de um contrato assinado entre o Exército Brasileiro uma empresa de Israel que fornece blindados para a limpeza étnica da Palestina.
“Houve agora uma licitação. Venceram os judeus, o povo de Israel. Mas por questão da guerra, do Hamas, por questões ideológicas, não podemos aprovar”, disse o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, nesta terça-feira, 8, reclamando do governo do qual faz parte para um punhado de empresários em um evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A referência foi à compra pelo Exército Brasileiro de 36 blindados obuseiros modelo Atmos 2000 fabricados não exatamente pelo “povo de Israel”, mas pela empresa israelense Elbit Systems. A assinatura do contrato foi suspensa pelo governo Lula em maio, após o negócio de aproximadamente R$ 1 bilhão ser alvo de críticas de figuras de expressão pública e entidades internacionais de defesa dos direitos humanos.
Quando Múcio fala, fala a Força Terrestre brasileira, que, portanto, não gostou da suspensão do negócio com a transnacional armamentista baseada em Haifa que fornece 8 em cada 10 equipamentos terrestres usados como são usados - para limpeza étnica - pelo Exército sionista na Palestina Histórica.
No segundo trimestre deste ano, 27% das vendas da Elbit Systems foram para as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), contra 17% do mesmo período de 2023, antes da “guerra contra o Hamas”. O aumento das vendas de armas terrestres da Elbit foi de 37% na comparação ano a ano, puxada pela invasão por terra da Faixa de Gaza, pela carnificina promovida pelas IDF em Gaza.
No site da Elbit há um vídeo do Atmos 2000 em operação, lançando um projétil de 155 milímetros por um cano de mais de oito metros de comprimento contra um alvo assinalado num monitor. O vídeo promocional, gravado em algum lugar entre o rio e mar, termina com uma explosão seguida da informação “alvo destruído”.
No livro “Laboratório Palestina”, o jornalista australiano Antony Loewenstein conta como Israel testa antes contra os palestinos a tecnologia militar que exporta para o mundo. A própria Elbit anuncia seus drones como “testados em combate”, “principal equipamento das IDF em operações antiterroristas”.
De fato: os drones Hermes 450 e Hermes 900 da Elbit, por exemplo, foram amplamente utilizados na chamada "Operação Margem Protetora", a “guerra entre Israel e o Hamas” em 2014 na qual Israel matou mais de dois mil palestinos em Gaza, deixou 11 mil feridos e 100 mil desalojados. Entre os mortos, mais de 250 crianças. Segundo a ong palestina Centro Al Mezan Para os Direitos Humanos, 37% dos mortos em Gaza na “Operação Margem Protetora” foram assassinados por Israel em ataques com drones.
A compra dos obuseiros da Elbit Systems para a infantaria motorizada do Exército Brasileiro está, por ora, cancelada. Porém, um mês atrás, no dia 6 de setembro, a Força Aérea Brasileira assinou um contrato de R$ 50 milhões com a AEL Sistemas para “reposição de aeronave Hermes RQ-900”. A AEL Sistemas é a subsidiária da Elbit Systems no Brasil, e a Elbit Systems fornece 85% dos drones usados pelo Exército de Israel contra os povos árabes.
Tal e qual os estojos com joias contrabandeados do Oriente Médio por um almirante de esquadra da Marinha do Brasil, um contrato das Forças Armadas com a Elbit Systems foi brecado, mas o outro passou.
Enquanto isso, enquanto compra drones de última geração “testados em combate” nos territórios palestinos ocupados, A FAB deixa o presidente da República cinco horas dando voltas no céu da Cidade do México num avião bichado, com problemas no motor.
Somando os 42 mil mortos por Israel na Faixa Gaza desde o ano passado, sendo 16 mil crianças, com os dois mil mortos por Israel no Líbano nas últimas semanas, já são 44 mil “questões ideológicas” atrapalhando as Forças Armadas a se aparelharem para a próxima tentativa de golpe de Estado.
E lá foi José Múcio chorar não por mortos, mas por um contrato, no colinho da CNI.