O ministeriável acusado de estupro
“Quem pratica assédio não fica no governo”, disse o presidente Lula à Rádio Difusora, de Goiânia, na tarde desta sexta-feira, 6, prenunciando a demissão de Silvio Almeida. O ministro de Direitos Humanos foi acusado de assédio sexual pela colega de esplanada Anielle Franco e, segundo a ong Me Too, por outras quatro mulheres.
“O presidente considera insustentável a manutenção do ministro no cargo, considerando a natureza das acusações de assédio sexual”, disse, em nota, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República na noite desta sexta, confirmando a demissão de Silvio Almeida.
“O Governo Federal reitera seu compromisso com os Direitos Humanos e reafirma que nenhuma forma de violência contra as mulheres será tolerada”, disse ainda, muito bem dito, a Secom.
Tão bem dito que o Palácio do Planalto terá agora que suspender a negociação com Arthur Lira sobre a sucessão na presidência da Câmara dos Deputados. Agora mais que nunca. É que segundo a jornalista Andreza Matais, do UOL, a negociação inclui dar a Lira um ministério, nomeá-lo ministro de Estado em 2025, e a ex-mulher de Lira o acusa de espancá-la e estuprá-la após a separação do casal, em 2006.
A surra de 40 minutos que Jullyene Lins diz ter recebido de Arthur Lira chegou ao STF em 2013, quando o pleno do tribunal, diante das provas técnicas e testemunhais do espancamento, acolheu a denúncia, tornando Lira réu. Mas depois, em 2015, a 2ª Turma absolveu-o, por “falta de provas”. A chave do acórdão foi que Jullyene acabou retirando a acusação, dizendo ter agido por vingança. Na época, ainda na fase de análise da denúncia, Ricardo Lewandowski alertou os outros 10 ministros do Supremo sobre a armadilha:
“Eu vejo com muita reserva a retratação da vítima nesses casos, em se tratando de mulheres agredidas, sobretudo tendo em conta aquele fenômeno que o eminente ministro Celso de Mello trouxe à baila, que é o patriarcalismo ainda muito arraigado em certos rincões deste país, ainda atrasados culturalmente, e que pode, em casos como este, fazer com que a vítima responda com a própria vida”.
Dito e feito, anos depois Jullyene Lins afirmou, e afirma até hoje, que retirou a acusação sob ameaça, e revelou que no dia da surra, além de apanhar, foi estuprada pelo possível futuro ministro do governo Lula III. Entrevistas recentes nas quais Jullyene conta sua história foram censuradas pela Justiça, a pedido do possível futuro ministro do governo Lula III, que, brandindo a decisão do STF, tenta calar a ex-mulher e veículos de comunicação.
Hoje ministro da Justiça, Lewandowski poderá alertar o presidente da República sobre mais esta armadilha. Mas, caso se concretize a possibilidade de Arthur Lira virar colega de esplanada de Anielle Franco, sempre em nome da governabilidade, algo afinal ficará provado nessa história toda com Silvio Almeida: no governo Lula III, nem todo ministro acusado de violência contra as mulheres fica insustentável, não será tolerado; só o da “turma dos direitos humanos”.