'Ninguém vai aturar um fascista na nossa faculdade'
No Rio, DCE que leva o nome de estudante assassinado no DOI-CODI tentou promover "debate" com candidato a prefeito que quer homenagear DOI-CODI com o Prêmio Construtor da Paz.
O Diretório Central dos Estudantes da PUC-Rio leva o nome de um estudante da casa assassinado pela ditadura, Raul Amaro, morto em 1971, aos 27 anos de idade, após sofrer três dias de tortura no DOI-CODI.
A bandeira do DCE da PUC-Rio é o arco-íris do movimento LGBTQIA+ estampado com a silhueta e o nome de Raul Amaro.
A Vila dos Diretórios da PUC-Rio leva o nome de Marielle Franco, que na PUC-Rio se formou em Ciências Sociais, com bolsa de 100%. Marielle atribuía ao seu período na PUC papel importante no seu envolvimento com atividades políticas, principalmente aquelas ligadas aos direitos da mulher.
O que fez o DCE Raul Amaro nesta segunda-feira, 16? O DCE Raul Amaro tentou promover um “debate” com Rodrigo Amorim, candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo União Brasil.
É de Rodrigo Amorim, que é deputado estadual, um projeto apresentado na Alerj para homenagear o 1° Batalhão da Polícia do Exército, onde funcionou o DOI-CODI, com o Prêmio Construtor da Paz.
Rodrigo Amorim foi condenado meses atrás, em maio, por violência política de gênero contra a vereadora trans de Niterói Benny Briolli (Psol), por chamá-la de “boizebu” e "aberração da natureza" do alto da tribuna da Alerj.
Rodrigo Amorim ganhou fama pelo episódio no qual, junto com Daniel Silveira, quebrou ao meio uma placa em homenagem a Marielle. A sua metade, Amorim a tem emoldurada e pendurada em seu gabinete na Alerj.
Por que o DCE Raul Amaro fez isso?
Porque o DCE Raul Amaro, que vem promovendo “sabatinas” com candidatos a prefeito do Rio, resolveu convidar todos os candidatos, sem exceção, “reafirmando nosso compromisso com o diálogo democrático e a promoção de discussões relevantes para a comunidade acadêmica e a sociedade”.
“Para que a comunidade possa conhecer melhor as propostas e posicionamentos dos candidatos”.
“Para proporcionar um espaço de diálogo aberto e plural, fundamental para o exercício da cidadania”.
Diálogo democrático, conhecer melhor as propostas, discussões relevantes? Com Rodrigo Amorim? E olha que o DCE Raul Amaro convidou também Alexandre Ramagem (PL), mas Ramagem recusou. Felizmente, o grosso dos estudantes da PUC-Rio botou Rodrigo Amorim para correr do pilotis do Kennedy, sob a palavra de ordem “ninguém vai aturar um fascista na nossa faculdade”.
O antifascismo nem sempre é laico e a universidade é pontifícia, mas na PUC-Rio há quem compreenda que há linhas, limites, para oferecer a outra face, para deixar quem tirou de você a capa, que tire também a túnica.