Mais de 10 anos após pedir desculpas a Dilma, Santander ataca novamente por 'virada na política'
E é um mundo pequeno, esse das “instituições financeiras” que confabulam com clientes “select” por trocas de governo.
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A subsidiária brasileira do banco espanhol Santander registrou lucro de R$ 3,8 bilhões no quarto trimestre de 2024. Trata-se do equivalente ao valor recorde em verbas federais para a Cultura liberado pelo governo Lula via Lei Paulo Gustavo. Trata-se também de uma alta de nada menos que 75% do lucro do Santander Brasil no comparativo anual. Mas eles querem mais.
Eles querem sempre mais, desde Castela e Aragão.
Segundo informa o jornal Valor Econômico em matéria publicada nesta quinta-feira, 20, o Santander anda soprando nos ouvidos de “investidores” que, caso se vislumbre uma “virada na política” brasileira para “uma administração mais pró-negócios”, o índice Ibovespa poderia subir 45% até o final de 2025.
A eleição no Brasil, porém, é só em 2026.
Parece incitação do capital financeiro a mais um golpe de Estado, mas, segundo o Valor, seria apenas o Santander Brasil buscando “estressar as análises para projetar o efeito de uma possível alternância de poder na cotação dos ativos”.
Não seria a primeira vez. Em 2014, às vésperas das eleições daquele ano, o Santander Brasil enviou um e-mail aos seus clientes “select” projetando que se Dilma Rousseff subisse nas pesquisas, rumo è reeleição, deixando Aécio Neves para trás, o índice Ibovespa iria despencar.
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Na época, Dilma classificou o atrevimento do Santander como “inadmissível”. A matriz pediu desculpas e a filial demitiu a analista responsável pelo e-mail aos clientes endinheirados. Agora, porém, atacan de nuevo.
E isto o Valor Econômico não mostra: parece que não é bem no índice da bolsa de São Paulo que o Santander Brasil tem os olhos postos quando incorre novamente em “projeção polêmica”, em “estressar as análises”, em açular “virada na política” a leste da linha de Tordesilhas.
Agora, em fevereiro, pintou no mercado um novo índice financeiro, o Easy BZ 15, que chega, segundo a imprensa especializada, para concorrer com o índice Ibovespa, como “uma alternativa aos investidores da B3”. A responsável pelo novo índice é a registradora CSD BR. No final do ano passado, no fim da gestão “independente” do ex-Santander Roberto Campos Neto no Banco Central, a CSD BR recebeu autorização do BC para atuar como concorrente da B3.
Um dos três sócios da CSD BR é o Santander Corretora, subsidiária da subsidiária dos espanhóis.
Outro sócio da CSD BR é o BTG Pactual, fundado por Paulo Guedes. Após ser ministro “da Economia” de Jair Bolsonaro, o velho Chicago Boy voltou ao mercado financeiro como sócio e presidente do conselho da Legend Capital, “boutique de investimentos plugada ao BTG Pactual”.
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O terceiro elemento da composição acionária da nova bolsa de valores do Brasil é a Chicago Board Options Exchange, ou seja, a Bolsa de Valores de Chicago.
Mundo pequeno, não? Mundo pequeno, esse das “instituições financeiras” que confabulam com clientes “select” por trocas de governo.