De onde saiu Juscelino Filho, se não é filho do Kubitschek?
De onde saiu Juscelino Filho? Ou melhor, reformulando: como o obscuro deputado Juscelino Filho foi parar no primeiro escalão do governo Lula III?
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil-MA), apresentou sua demissão ao presidente Lula na noite desta terça-feira, 8, horas após ser denunciado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, por desvio de emendas parlamentares quando era apenas um obscuro deputado federal.
O ministro dos Transportes, Renan Filho, é filho do Calheiros. O ministro das Cidades, Jader Filho, é filho do Barbalho. Juscelino Filho, por sua vez, não é filho do Kubitschek, mas sim do latifundiário e político maranhense Juscelino Rezende, que está prestes a ir a júri popular em São Luis, acusado de mandar matar um agiota a quem devia dinheiro que pegou emprestado para campanha eleitoral.
“Ele é o dono das Fazendas Boa Esperança, Estirão, Magalhães, Rocaporena, Vitorino Freire, Pau Vermelho, Pau Vermelho II, Pau Vermelho III, Pau Vermelho VIII. É o médico José Juscelino dos Santos Rezende Filho, novo ministro das Comunicações. O ministro da União Brasil, do Bivar. Se é essa pessoa que vai combater os latifúndios da comunicação no Brasil, responsáveis diretos - sim, diretos, determinantes - por nossa desigualdade e violência, claro que não”, escreveu o jornalista Alceu Castilho no Facebook no dia 29 de dezembro de 2022, dia em que Lula anunciou Juscelino Filho para o Ministério das Comunicações.
(Na mesma postagem no Facebook, Alceu Castilho deixou um aviso. Este: “Aviso aos novos governistas mais raivosos e refratários a observações, fiscalizações e críticas: todos sempre soubemos do perfil conciliador de Lula e da necessidade de composição política para governar este país destruído. Mas algumas indicações são mais nocivas para o país que queremos — e para nossa saúde mental — que outras. E não consta que devamos abdicar da pressão por um governo à esquerda. Desconfio profundamente que não vá ser a direita a fazer isso.”)
E de onde saiu Juscelino Filho? Ou melhor, reformulando: como o obscuro deputado Juscelino Filho foi parar no primeiro escalão do governo Lula III? Como foi que o filho do Seu Rezende foi parar lá, nas Comunicações, pasta mais que nunca estratégica, nestes tempos de aliança entre o fascismo e as big techs; da Starlink, de Elon Musk, tendo como advogado no Brasil o filho do comandante do Exército Brasileiro; de Musks, Zuckerbergs e que tais amontoando-se, no caso do Brasil, ao problema do oligopólio das telecomunicações e radiodifusão?
Para responder a isso, precisamos retroceder um pouquinho mais, para a antevéspera de Natal daquele dezembro de 2022.
Naquele dia, seis dias antes do anúncio de Juscelino Filho para o Ministério das Comunicações, três repórteres da Folha de S.Paulo contaram que Lula estava negociando as Comunicações com o Centrão nos seguintes termos, como quem aponta a rabanada entre o pavê o panetone:
“Lula teria sugerido a Alcolumbre os ministérios da Previdência, das Comunicações ou do Turismo. O senador amapaense não demonstrou interesse por nenhuma das três pastas, segundo relatos”.
“O presidente eleito - dizia ainda a Folha - abriu negociações diretamente com parlamentares da União Brasil, deixando em segundo plano a interlocução com dirigentes da legenda”.
Parecia um conto assombroso de Natal publicado pela “Falha”, mas não era, não.
Azi e queimação
Entre o Natal e o Ano Novo, Lula sondou, então, para as Comunicações, o nome do deputado baiano Paulo Azi, um ex-vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara filiado à Arena. Desculpe, PFL. Foi mal, DEM. O melhor: União Brasil. Via Alcolumbre, Paulo Azi mandou recado a Lula para que o presidente nem se desse ao trabalho de fazer o convite oficial: para ele, Azi, não havia remédio para queimação que desse conta de virar ministro de Lula após toda uma vida de antipetismo.
Paulo Azi tinha sido sondado após setores do PT vetarem um outro nome do União Brasil ventilado para as Comunicações, o do deputado Elmar Nascimento, por ele ser muito ligado a Arthur Lira. Foi Elmar, porém, quem indicou o nome que Lula afinal viria a anunciar.
E foi assim que José Juscelino dos Santos Rezende Filho ficou com a rabanada, depois dela passar de mão em mão, na mesma época em que Daniela do Waguinho, ligada a milicianos da Baixada Fluminense, ficou com o panetone - o Ministério do Turismo.
O oligopólio da mídia corporativa que opera no Brasil informa na noite desta terça que o provável sucessor de Juscelino Filho no Ministério das Comunicações será outro obscuro deputado federal do União Brasil maranhense e outro filho de alguém, por assim dizer.
Trata-se de Pedro Lucas Fernandes, filho do ex-deputado federal Pedro Fernandes, que foi secretário de Desenvolvimento Urbano e de Educação do governo Roseana - filha do Sarney - no Maranhão, e que chegou a ser anunciado ministro do Trabalho do golpe de 2016, mas acabou preterido pelo golpista - um golpista algo meritocrático, porque Miguel Elias Temer Lulia era apenas um imigrante libanês.