'Avançar na pacificação nacional'

E isso depende de medidas que já deviam ter sido tomadas há muito, muito tempo: a punição dos mandantes da tentativa de golpe.

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil.

Aquela figura grotesca, aquela figura abjeta, que sempre caprichou e exagerou nos maus modos, que não perdia uma oportunidade para ofender seus (e especialmente suas) oponentes, que dizia “não te estupro porque você não merece”, que usava o apartamento funcional “para comer gente”, que achou que um repórter tinha “uma cara de homossexual terrível”, que só falava em “Deus, pátria e família” e que dava ultimatos no estilo “acabou, porra!”, aquela figura criminosa que prometeu acabar com os movimentos de defesa de direitos humanos e botar a esquerdalha na "ponta da praia", que bloqueou como pôde todas as tentativas de combate à pandemia, deixou milhares morrerem estupidamente e chegou a imitar uma pessoa sufocando, que tentou fraudar as eleições, jamais reconheceu a derrota e seria diretamente beneficiado caso a tentativa de golpe em 8 de janeiro tivesse prosperado, aquela figura asquerosa que se apresentava de camiseta de clube de futebol, calça de moletom mal ajambrada e chinelos Rider, que comia pão com leite condensado e deixava esparramar no chão a farofa do frango assado, aquela figura asquerosa agora se apresenta como um defensor da democracia (e encontra jornal que o acolha) e mete um belo verniz na hora de se manifestar sobre o tresloucado gesto de um seu seguidor, como se esse suposto perturbado mental não tivesse nenhuma fonte de inspiração.

Seu ghost writer caprichou no Twitter:

“Apesar de configurar um fato isolado, e ao que tudo indica causado por perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo, é um acontecimento que nos deve levar à reflexão. Já passou da hora de o Brasil voltar a cultivar um ambiente adequado para que as diferentes ideias possam se confrontar pacificamente, e que a força dos argumentos valha mais que o argumento da força”.

Quanto refinamento, quanta ponderação, quanto bom senso para quem volta e meia explodia e só se expressava com palavrões...

Mas o melhor é a conclusão:

“Por isso, apelo a todas as correntes políticas e aos líderes das instituições nacionais para que, neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional”.

Nada mais justo.

Precisamos urgentemente avançar na pacificação nacional.

E isso depende de medidas que já deviam ter sido tomadas há muito, muito tempo: a punição dos mandantes da tentativa de golpe.

Já passou mesmo da hora.

Essa figura grotesca, essa figura abjeta, essa figura asquerosa não pode ficar impune.