Ao chegarmos em dezembro...
Lembremos como foi a cerimônia do Dia do Marinheiro de 2022. Na época, os sinais públicos de golpismo dados por Bolsonaro e militares eram tratados pela imprensa como declarações e mensagens "dúbias".
“Ao chegarmos em dezembro, homenageamos os Marinheiros e Fuzileiros, que abdicam de suas famílias e dos momentos de lazer para proteger as riquezas do Brasil no mar”.
É o que diz o texto que acompanha um vídeo postado no fim de semana nas redes sociais da Marinha do Brasil. Trata-se do vídeo que exalta sacrifícios dos fuzileiros navais, reduz civis a desocupados que apenas dançam, bebem e fazem ioga; e, em manifestação política, ataca a inclusão dos militares no corte de gastos.
O vídeo é alusivo ao Dia do Marinheiro, que se avizinha - 13 de dezembro.
Então, agora, “ao chegarmos em dezembro”, é hora também de lembrar como foi a cerimônia alusiva ao Dia do Marinheiro de dois anos atrás, em dezembro de 2022, quando o então comandante da Marinha, Almir Garnier, integrava a conspiração do bolsonarismo militar para um golpe de Estado, segundo a Polícia Federal.
Na época, Bolsonaro, Braga Netto, etc, enfileiravam sinais públicos do golpe em execução. Esses sinais, porém, eram tratados pela imprensa brasileira como declarações e mensagens “dúbias”.
Na cerimônia do Dia do Marinheiro de 2022, coube a um locutor da Marinha ler uma “mensagem dúbia” de Bolsonaro, que compareceu ao evento, mas entrou mudo e saiu calado:
“O Brasil confia em qualquer tempo na atuação indelével das suas Forças Armadas em prol da defesa de nossa Pátria e pela garantia da liberdade do povo brasileiro. Hoje, ao celebrarmos mais um Dia do Marinheiro (…) reafirmo a todos os brasileiros o comprometimento da Marinha do Brasil com o futuro de nossa Pátria. Registro, como presidente da República, a gratidão e o reconhecimento de nossa população pelos marinheiros, fuzileiros navais e servidores civis de ontem e de hoje que até mesmo com o sacrifício da própria vida lutaram, e sempre lutarão, para impedir qualquer iniciativa arbitrária que possa vir a solapar os interesses de nosso país”.
Na cerimônia do Dia do Marinheiro daquele 13 de dezembro de 2022, realizada do Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, a cerca de 10 quilômetros do QG do Exército, onde milhares de pessoas pediam “intervenção militar” contra a posse de Lula; naquele dia, naquele local, o almirante Garnier deu a seguinte “declaração dúbia” na frente de ministros de Estado, parlamentares e ministros de tribunais superiores; dos generais Mourão, Paulo Sergio e Heleno; de Jair Bolsonaro:
“Tenho hoje a honra de dirigir-me a todos os meus comandados e a todos os brasileiros e brasileiras que, irmanados em fortes sentimentos de nacionalidade e de amor à Pátria, lutam incansavelmente pelo ideal de um Brasil cada vez melhor, cada vez mais verdadeiramente livre e completamente soberano”.
E depois, dirigindo-se, voltando-se para Bolsonaro:
“Senhor presidente da República, conte com a minha, com a sua, com a nossa Marinha. Tudo pela Pátria”.
A cerimônia, repetindo, aconteceu no Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília. Em março de 2023, o repórter Paulo Motoryn descobriu que 120 militares desse grupamento atuaram no 8/1 guarnecendo os prédios do Comando da Marinha e do Ministério da Defesa, na Esplanada, enquanto uma horda de “irmanados em fortes sentimentos de nacionalidade e de amor à Pátria” barbarizava à vontade a Praça dos Três Poderes.
O dia 13 de dezembro é o Dia do Marinheiro porque é aniversário de nascimento do almirante Tamandaré. Neste dia, a Marinha costuma distribuir aos amigos da Força medalhas com o nome do seu patrono, conforme disse ainda Garnier em seu discurso naquele 13 de dezembro de 2022, dia seguinte à diplomação de Lula e do ataque à sede da Polícia Federal em Brasília, que fica a cinco quilômetros do Grupamento de Fuzileiros Navais:
“Ao reafirmar o nosso compromisso maior com a defesa do Brasil, cumprimento e registro o mais nobre reconhecimento da Marinha do Brasil aos que hoje foram merecidamente agraciados com a Medalha Mérito Tamandaré, cujas cerimônias estão ocorrendo nos diversos Distritos Navais e no exterior”.
Um dos que receberam a medalha Mérito Tamandaré naquele dia, no exterior - nos EUA -, foi o “jornalista” bolsonarista Rodrigo Constantino, que por aqueles dias só fazia envenenar sua ampla audiência na Jovem Pan, nas redes sociais e na porta dos quartéis apregoando que a eleição de Lula tinha sido “fruto de um malabarismo do Supremo”, entre outras incitações do gênero à revolta social.
“Ao chegarmos em dezembro”, não custa lembrar.