Acabou o teatro da 'escolha muito difícil'
Editorial do jornal O Globo diz que governo fascista de Javier Milei na Argentina dá "lição para o continente". Quando fala em "continente", O Globo quer dizer Brasil.
O jornal O Globo publicou em seu site no início da noite desta segunda-feira, 2, um editorial intitulado “Milei dá lição de disciplina fiscal para o continente”.
Em contexto de terrorismo fiscal do “mercado” e da imprensa brasileira contra o governo Lula, O Globo exalta o dramático arrocho social que o governo Milei vem fazendo na Argentina, com uma contração real de 28% - repetindo, 28% - dos gastos públicos.
E diz, o jornal, que “apesar de o choque ter levado a pobreza ao pior nível em 20 anos, Milei conta com a paciência dos argentinos”. Que Milei tenha criminalizado os protestos de rua na Argentina, isso O Globo não mostra. Além disso, o editoral flerta com o negacionismo social ao afirmar que “pobreza é sempre algo difícil de medir”.
Na mesma linha, a aniquilação dos investimentos públicos em Ciência e Cultura, os draconianos cortes de auxílios aos miseráveis, a guerra movida contra órgãos de Direitos Humanos e as ações de revisionismo da ditadura que matou 30 mil argentinos, tudo isso e muito mais do governo Milei, nas mãos do editorialista d’O Globo vira apenas nuances de um “perfil provocador”.
Meses atrás, Em Buenos Aires, a casa de uma ativista da organização HIJOS (Filhos e Filhas pela Identidade e Justiça contra o Esquecimento e o Silêncio) foi invadida por homens que a espancaram, estupraram e deixaram pichada na parede a sigla VLLC.
“¡Viva la libertad, carajo!”, slogan no mero “provocador”, bordão do exemplo para o continente.
Não foi um caso isolado: logo depois, em Rosário, outra mulher da mesma organização, advogada que atua em casos de crimes de lesa-humanidade cometidos por agentes da ditadura, recebeu mensagem para “deixar a tempo” esses casos, pois já havia “um assassino pago” para ela e sua família.
Ao exaltar a “lição de disciplina fiscal” de Milei, além de desconsiderar a violência política embutida no pacote completo, O Globo chega a debochar, mangar, a pôr entre aspas o que chama de “alardeada ‘preocupação social’”.
Corte de 28% dos investimentos públicos com pedido de paciência, mas à base do porrete, a mais da metade da população padecendo na pobreza, um quarto passando fome: trata-se de empreitada que só mesmo um regime fascista pode lograr levar a cabo.
Eis a “lição para o continente”, segundo O Globo.
Quando O Globo fala em “lição para o continente”, quer dizer lição para os Estados Unidos da Bruzundanga. Diz em seu final o editorial do jornal O Globo, a declaração de guerra aberta do jornal O Globo à Democracia, em nome de cortes sem precedentes, cortes exosféricos dos investimentos públicos:
“Milei ainda continua a falar como ‘o louco’ da campanha eleitoral, mas pelo menos no aspecto fiscal tem mantido um nível de sanidade que faz falta no Brasil”.
No Brasil, que parem de se iludir de uma vez por todas os canceladores de atos críticos da ditadura e demais pisadores de ovos do campo democrático: o tempo de “uma escolha muito difícil”, eternizado no editorial com este nome do Estadão e no editorial “Jair Rousseff”, da Folha de S.Paulo, esse tempo “acabou, porra”.
Ou melhor: acabou aquele teatro.