Há dois mil e seiscentos anos um escravo contador de histórias tentou instruir os da Grécia antiga sobre os riscos da vaidade, mas acabou ilustrando os do Brasil moderno o quanto difícil será a luta contra os fatos para blindar oficiais generais que destacaram “técnicos” para lançar dúvidas sobre as urnas eletrônicas, agasalharam e acalentaram acampamentos golpistas, até com nota pública de apoio, e até moveram tropas para o meio da rua a fim de impedir a prisão de terroristas em flagrante.
Durante a guerra patriótica movida pelos ratos contra as doninhas, os ratos estavam cansados de perder a maioria das batalhas. Reunindo-se em assembleia, chegaram à conclusão de que faltava comando. Em votação, elegeram alguns generais – “SOS FFAA” – e surgiu um Alto Comando dos Ratos. Para se distinguirem dos oficiais intermediários, subalternos e dos reles patriotas, os generais implantaram chifres sob seus quepes decorados com quatro elipses concêntricas perfiladas, bordadas em fio Myller, tendo ao centro, em fundo azul-celeste, o Cruzeiro do Sul em estrelas prateadas.
Houve uma nova batalha, uma grande escaramuça. Mesmo causando grande destruição ao inimigo, os ratos, de novo, levaram a pior. Batendo em retirada, a maioria dos intermediários, subalternos, reles patriotas e esbirros de toda sorte conseguiu voltar para os esgotos. O Alto Comando, por seu coturno, ficou em dificuldades: os chifres impediram que os generais escorregassem por completo pelas frestas.
Quando bolou a fábula “Os ratos e as doninhas”, Esopo, por óbvio, não tinha em mente os generais de quatro estrelas Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, Marco Antônio Freire Gomes e Gustavo Henrique Dutra de Menezes, respectivamente ministro da Defesa, comandante do Exército e comandante militar do Planalto durante os meses de fermentação cívico-militar, por assim dizer, do 8/1.
Mas a moral da história é esta: ainda que Tomás Paiva, José Múcio, Arthur Maia e Eliziane Gama – para quem “as Forças Armadas impediram um golpe no país” – estejam diligentemente empenhados na “narrativa” de que apenas oficiais intermediários, subalternos, reles patriotas e esbirros de toda sorte tentaram um golpe de Estado, não será nada simples levar a cabo a operação anistia dos oficiais generais.
É que os chifres são grandes demais.
até que não estão de todo errados: o maior deles e tenente ou sargento reformado, sei lá…