Até agora não há muitas certezas sobre o caso das “joias das arábias”, mas o que aconteceu no dia 26 de outubro de 2021 na conferência de bagagem da alfândega do aeroporto de Guarulhos já parece clarificado.

Ao desembarcarem em Guarulhos naquele dia, vindos da Arábia Saudita, o então contra-almirante-ministro Bento Albuquerque e um assessor das Minas e Energia, também militar da marinha, tomaram o corredor de “nada a declarar” à Receita Federal, ainda que estivessem pesados de ouro e pedras preciosas.

O assessor foi convidado a pôr sua bagagem na esteira do raio-x. Pego com R$ 16,5 milhões em joias da Chopard, pediu para chamar Bento Albuquerque, que já estava no saguão. Um auditor fiscal autorizou a volta do almirante à área restrita de desembarque. Lá, Bento Albuquerque se recusou a iniciar procedimentos para pleitear formalmente que as joias – e o corcel mutilado – fossem consideradas bens da União frutos de presente do Reino Unido da Arábia Saudita para a República Federativa do Brasil.

A partir daí, iniciou-se uma grande mobilização para tentar levar as joias até Jair Bolsonaro. Foram nada menos que oito tentativas conhecidas ao longo de 14 meses, contando com a de Bento Albuquerque, in loco, no dia da apreensão. O mutirão envolveu três ministérios – Minas e Energia, Economia e Relações Exteriores – e a própria presidência da República.

Além do almirante Bento Albuquerque e do seu assessor Marcos Soeiro, que é primeiro-tenente da Marinha, tomaram parte na Operação Chopard os militares José Roberto Bueno Júnior, contra-almirante e ex-chefe de gabinete de Bento Albuquerque nas Minas e Energia; Marcelo da Silva Vieira, capitão-de-corveta e ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República; Mauro Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro; e Jairo Moreira da Silva, primeiro-sargento da Marinha e ex-integrante da Ajudância de Ordens do Gabinete Pessoal do Presidente da República.

Jairo Moreira da Silva foi escalado pela Presidência da República para viajar de Brasília para São Paulo num avião da FAB na última – e a mais desesperada – das oito tentativas de tirar as joias cravejadas de diamantes do aeroporto de Guarulhos. O marinheiro meteu essa no balcão da alfândega: “não pode ter nada do governo antigo pro próximo, tem que tirar tudo e levar”.

Não colou, claro, e o bravo Jairo voltou para o Palácio do Planalto com as mãos abanando. A missão “em caráter de urgência”, como disse Jairo no aeroporto, aconteceu no dia 29 de dezembro do ano passado. No dia seguinte à viagem frustrada de mais esta mula marcial, Bolsonaro se pirulitou para os EUA levando o relógio do segundo estojo da Chopard – aquele que, ao contrário do estojo apreendido, Bento Albuquerque conseguiu contrabandear no dia 26 de outubro de 2021.

Chama-se Adalto Ismael Rodrigues Machado, da delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da Polícia Federal de São Paulo, o delegado que foi encarregado da investigação do caso das “joias das arábias”.

O delegado Adalto há de saber, para início dos trabalhos, que os dicionários definem “tropa” como coletivo de animais de carga, como as mulas, mas também como “grande número de soldados de qualquer das armas”.

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