Petrópolis, 16 de fevereiro de 2021 (Foto: Bombeiros-RJ/Reprodução Twitter)

Nesta terça-feira, 15, Come Ananás publicou um artigo mostrando que o Gabinete de Intervenção Federal no Rio de Janeiro (GIFRJ) ainda funciona, graças a quatro decretos de prorrogação assinados por Bolsonaro, e desde 2018 vem entregando às polícias do Rio um arsenal digno do front ucraniano, contribuindo, por exemplo, com 1.500 fuzis e mais de um milhão de munições para a perpetuação de uma das maiores tragédias fluminenses: ter a polícia mais letal do Brasil.

Enquanto ainda alimenta com gosto uma das mortíferas tragédias fluminenses, a Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro pouco fez, comparativamente, para mitigar outra, a das mortes decorrentes de enchentes e deslizamentos causados pelas chuvas, por mais que a Defesa Civil do Rio estivesse no escopo da empreitada intervencionista criada por Michel Temer e comandada pelo general Walter Souza Braga Netto.

Até novembro de 2020, o GIFRJ tinha repassado R$ 455 milhões em materiais e equipamentos à Polícia Militar do Rio de Janeiro, R$ 248 milhões à Polícia Civil e R$ 85 milhões à Defesa Civil do estado.

Em uma das maiores entregas de equipamentos feitas pela intervenção para órgãos de segurança pública do Rio, em dezembro de 2018, a Polícia Militar recebeu 852 Viaturas Rádio Patrulha Nissan Versa 1.5, além de 60 fuzis, milhares de coletes à prova de balas e dezenas de milhares de munições; a Polícia Civil ganhou 184 viaturas do mesmo modelo, 20 fuzis doados pela Taurus Armas e 28 mil balas 5.56 mm doadas pela Companhia Brasileira de Cartuchos.

Naquele dia, em cerimônia realizada no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo, a Intervenção Federal entregou dois itens à Secretaria de Defesa Civil do Rio Janeiro: 18 viaturas adquiridas com recursos da taxa de incêndio e 13 mil cartuchos .40.

Na tarde desta terça, a realidade cobrou mais uma vez, desta vez em Petrópolis, na região serrana do Rio, o preço do entendimento de que segurança em geral, e segurança pública em particular, é tiro, porrada, bomba e cadeia; de que é política criminal com derramamento de sangue e encarceramento em massa.

Enquanto isso, enfrentamento de riscos, prevenção de desastres “naturais” e capacitação para lidar com os morros derramados, tudo o que raramente esteve em alta no Brasil, beira hoje, no “Novo Brasil”, o status de papo de comunista, e logo quando o “novo normal do clima” exige máxima prioridade para lidar, por exemplo, com tormentas que despejam 200 ou 300 milímetros de chuva em poucas horas.

Às 13 horas desta quarta-feira, 16, eram 55 mortes confirmadas na “cidade Imperial”. Pouco antes, por volta do meio-dia, a Folha de S.Paulo informou que a Defesa Civil do Rio foi avisada de riscos de deslizamentos em Petrópolis com um dia antecedência. Ouvido pelo jornal, o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP e vice-presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, disse que não houve evacuação porque a Defesa Civil do Rio não está preparada para lidar com esse tipo de cenário.

Duda

Na manhã desta quarta, horas após a tempestade, a Rede Globo exibiu ao vivo uma mulher descendo um assombroso paredão de escombros no bairro Alto da Serra, em Petrópolis, chamando por “Duda”. A mulher repetia em voz alta, desolada, o apelido de sua filha de 17 anos de idade, que estava soterrada por toneladas de lama, pedra e concreto em algum ponto de um quadro de devastação total.

A repórter Bette Lucchese colheu da mãe o lamento de que não havia ninguém ali para ajudar, logo antes de ela própria, em busca da filha, pegar uma enxada para entrar numa luta tão desesperada quanto inútil contra a massa descomunal movida pela avalanche.

Como poderiam servir para a mãe da Duda os 13 mil cartuchos .40 doados pela intervenção de Braga Netto, hoje ministro da Defesa, para a Defesa Civil do Rio de Janeiro?

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