O Nobel da Paz de 1994 e, em 1994, o primeiro atentado do Hamas

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Publicado no Reino Unido em 2006 e no Brasil em 2009, o livro “Hamas: um guia para iniciantes” é leitura importante para compreender os dias sangrentos que correm – o sangue que correu há uma semana em Israel e o sangue que desde então não para mais de correr na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Tem a preços camaradas na Estante Virtual. O livro é do palestino Khaled Hroub, coordenador do Arab Media Project da Universidade de Cambridge e professor de estudos do Oriente Médio na Northwestern University, no Catar. A insuspeita revista estadunidense Foreign Affairs classificou o livro de Khaled Hroub como uma “apresentação profunda e imparcial” sobre o Hamas.

Diz um trecho do livro, logo no início:

“Em 1993, um acordo inicial foi alcançado entre a OLP e Israel – O Acordo de Oslo – após meses de reuniões secretas na Noruega. Endossado em Washington pela administração de Bill Clinton, o acordo estava teoricamente dividido em duas fases: uma fase de cinco anos de governo interino (significava essencialmente observar e testar a competência palestina para governar pacificamente seu próprio povo e para controlar as facções armadas da resistência consideradas ‘ilegais’) que teve início em 1994. Caso se mostrasse bem-sucedida, seria seguida por uma segunda fase de negociações para um ‘acerto final’. Os palestinos ficaram igualmente divididos em relação aos Acordos de Oslo. Aqueles que apoiavam as decisões tomadas argumentavam que se tratava da melhor negociação que poderiam conseguir, das as circunstâncias desfavoráveis que enfrentavam e a falta de equilíbrio na balança de poder, que permaneceu irredutivelmente favorável a Israel. Aqueles que se opuseram ao Acordo defendiam que ele se constituía simplesmente uma rendição a Israel ao reconhecer o Estado de Israel e abandonar oficialmente a luta armada sem nenhum ganho concreto. No período de cinco anos de governo interino, não deveria haver qualquer discurso sobre as principais questões palestina, tais como o direito dos refugiados de retornarem, o status de Jerusalém, o controle sobre as fronteiras palestinas e o desmantelamento dos assentamentos israelenses construídos de forma intensiva na Cisjordânia e da Faixa de Gaza, que estavam ocupadas. Segundo os Acordos, estas questões seriam todas relegadas para as discussões finais, que, conforme o ocorrido, nunca chegaram a ser concretizadas”.

Em 1994, o primeiro-ministro de Israel à época, Yitzhak Rabin, o chanceler israelense, Shimon Peres, e o presidente da OLP, Yasser Arafat, ganham o Prêmio Nobel da Paz, pela costura dos Acordos de Oslo. Mas… segue Khaled Hroub:

“O Hamas se opôs intensamente ao Acordo de Oslo, acreditando que ele visava servir aos interesses israelenses e comprometia os direitos básicos palestinos. Depois de mais de 10 anos do Acordo, os palestinos ficaram totalmente frustrados, e sua frágil confiança inicial na sinceridade dos diálogos sobre a paz com Israel evaporou. Durante o período de governo interino, que supostamente abriu caminho para uma paz permanente, Israel fez tudo ao seu alcance para dificultar a vida dos palestinos e intensificar sua ocupação colonial na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Durante esse período, por exemplo, o tamanho e o número de assentamentos israelenses na Cisjordânia – o principal obstáculo para um acordo final de paz – foi duplicado. Com o fracasso de Oslo, uma segunda intifada irrompeu em 2000 contra Israel, gerando mais poder e influência ao Hamas e seu ‘projeto de resistência’”.

No mesmo ano do Nobel da Paz para Rabin, Perez e Arafat, 1994, acontece o primeiro atentado do Hamas.

Khaled Hroub conta como foi:

“O primeiro uso dessa tática ocorreu em 1994, durante uma retaliação ao massacre de palestinos que oravam no interior de uma mesquita, na cidade palestina de Hebron. Um judeu fanático, morador de um assentamento, abriu fogo contra os fiéis que ali estavam, matando 29 pessoas e ferindo muitas outras. Consequentemente, o Hamas jurou vingança por essas mortes e cumpriu o que prometera. Desde então, todo ataque violento do grupo contra civis israelenses tem sido associado às específicas atrocidades israelenses contra civis palestinos”.

“Embora não sejam mais brutais que as ações que os israelenses têm realizado contra os palestinos ao longo das décadas, os ataques suicidas prejudicaram a reputação tanto do Hamas quanto do povo palestino em todo o mundo. A justificativa do grupo por conduzir esse tipo de operação tem muitas razões. Primeira: eles afirmam que estas operações são uma exceção à regra e são movidas somente pela necessidade de retaliação. Trata-se da política “olho por olho” em resposta aos contínuos massacres de civis palestinos cometidos pelo exército israelense. Segunda: o Hamas afirma que continua mantendo de pé sua proposta a Israel segundo a qual civis dos dois lados seriam poupados de se tornarem alvo, mas Israel nunca aceitou a proposta. Terceira: os líderes do grupo dizem que a sociedade israelense como um todo deveria pagar o preço pela ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, da mesma forma como a sociedade palestina tem pago o preço por essa ocupação, ou seja, medo e sofrimento deveriam ser experimentados por ambos os lados”.

E têm sido.

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