É dose pra javali raivoso perseguido por CACs enlouquecidos assistir à mídia corporativa repercutir como se fosse palavra da salvação, amém, as juras de amor à legalidade volta e meia declamadas pelo general Tomás Paiva, secretário-executivo de turno do Partido Militar, cargo também conhecido como o de comandante do Exército.
Nesta sexta-feira, 25, em meio aos cada vez mais volumosos indícios de participação das Forças Armadas na tentativa de golpe de Estado do 8/1, derreteram-se quase todos com uma frase do general Tomás Paiva dita durante seu discurso em uma cerimônia de comemoração do Dia do Soldado. Disse assim o general, cheio de rapapés e rococós: “desvios de conduta serão repudiados e corrigidos, a exemplo do que fez Caxias, o forjador do caráter militar brasileiro”.
É o mesmo Tomás Paiva que três dias antes tinha se reunido com o presidente da CPMI do 8/1, Arthur Maia (União-BA), para, segundo apuração do jornalista Luis Costa Pinto, assentar os nomes de dois generais de divisão como “bois de piranha” com o intuito de tirar da alça de mira das investigações uma pá de generais de Exército, topo da carreira da Força, que estiveram no topo da cadeia bolsogolpista.
Entre os generais de quatro estrelas que Tomás Paiva ora tenta proteger, movendo alfinetes no mapa de Brasília, estão Gustavo Henrique Dutra de Menezes, Marco Antônio Freire Gomes e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, respectivamente comandante militar do Planalto, comandante do Exército e ministro da Defesa do governo Bolsonaro durante o processo de fermentação golpista que resultou no 8/1.
Pelo visto, de nada serviram para calibrar o desconfiômetro aqueles meses e meses, ainda fresquinhos, de, por exemplo, juras de “espírito colaborativo com o TSE” feitas pelo general Paulo Sérgio, quando a mídia veiculava ao ritmo de every little thing is gonna be alright as declarações legalistas com as quais o então ministro, ele próprio ex-comandante do Exército, salpicava seu esforço diuturno para envenenar o país com desconfianças sobre as urnas eletrônicas.
A mídia corporativa nunca, jamais cobriu o trabalho da assim chamada Equipe das Forças Armadas de Fiscalização do Sistema Eletrônico de Votação (EFASEV) com o único viés compatível com sua responsabilidade: o de denúncia.
Os repúdios do general
O general Tomás Paiva é do “círculo de confiança” do general Eduardo Villas Bôas, generalíssimo do Partido Militar, necromante do golpismo fardado no Brasil, aquele que, quando ocupava o cargo que hoje é de Tomás Paiva, ameaçou publicamente o STF, via Twitter, na véspera do julgamento do Habeas Corpus preventivo que poderia ter colocado Lula contra Bolsonaro nas eleições de 2018.
Atribui-se ao então chefe de gabinete de Villas Bôas a sugestão da parte mais dura daquela ameaça, daquele tuíte do general, a parte que falava em “repúdio à impunidade”. O chefe de gabinete de Villas Bôas à época era o general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, o mesmo que nesta sexta, Dia do Soldado, bravateou “repúdio” a desvios de conduta no Exército de Caxias…
O mesmo Tomás Paiva que em 2017, sempre lado a lado com Villas Bôas, disse ao repórter Fabio Victor que “foi uma coisa burra”, “o maior erro estratégico do PT” o Diretório Nacional do partido ter aprovado no ano anterior, após a abertura – com dedo verde-oliva – do processo de impeachment contra Dilma, uma resolução dizendo que os governos petistas deveriam ter atuado para alterar o sistema de promoção das Forças Armadas e o currículo das escolas militares.
O mesmo Tomás Paiva que antes de tudo isso, em 2014, quando era comandante da Academia Militar das Agulhas Negras, permitiu que um político reunisse dezenas de cadetes no pátio da Aman para discursar ilegalmente dentro de uma Organização Militar, para falar pela primeira vez publicamente em ser candidato à presidência da República: “Nós temos que mudar este Brasil, tá ok? Alguns vão morrer pelo caminho, mas eu estou disposto a, em 2018, seja o que Deus quiser, tentar jogar para a direita esse país”.
Abre as asas sobre nós
Nesta sexta-feira, 25, enquanto o comandante do Exército prometia correções de desvios do “caráter militar brasileiro”, Come Ananás mostrava que semanas atrás o general Tomás Paiva nomeou para o seu próprio gabinete um tenente-coronel dispensado do GSI por motivo de golpismo, após a Polícia Federal avisar o Palácio do Planalto da presença do golpista infiltrado na segurança de Lula.
A nomeação do tenente-coronel André Luis Correia para debaixo das asas do general Tomás Paiva saiu apenas dois dias antes de a dispensa de Correia do GSI ser publicada no Diário Oficial da União. Se o general disser que só soube do golpismo e da dispensa do tenente-coronel Correia pelo DOU, é capaz de a mídia-cândida acreditar, e não ir atrás fuçar.