No dia 19 de maio do ano passado, militares do 1º Regimento de Cavalaria de Guardas, conhecido como Dragões da Independência, foram destacados para tocar o Hino Nacional Brasileiro na cerimônia de lançamento do “Projeto de Nação – O Brasil em 2035”, projeto anti-“poder midiático e eleitoral do discurso globalista” e anti-“doutrinação facciosa efetuada por professores” elaborado por generais bolsonaristas da reserva, mas que contou com a estrutura do serviço ativo do Exército para ser gestado e parido.
O 1º Regimento de Cavalaria de Guardas é uma Organização Militar Diretamente Subordinada (OMDS) ao Comando Militar do Planalto. Entre as missões dos Dragões da Independência estão justamente “contribuir com o Comando Militar do Planalto na Garantia dos Poderes Constitucionais” e “contribuir com a Segurança Presidencial, realizando a Guarda das instalações da Presidência da República”.
Entre as missões do Comando Militar do Planalto não está mover tropas para o meio da rua para impedir operação policial sob comando civil. No entanto, foi justamente isso o que fez fez na noite do dia 8 de janeiro de 2023 o então chefe do CML, general Dutra, para impedir a Intervenção Federal em Brasília de prender terroristas que refluíram para o acampamento golpista do Setor Militar Urbano após o ataque à Praça dos Três Poderes.
O senso comum atribui aos Dragões da Independência função meramente cerimonial, com suas lanças, capacetes emplumados e fardas brancas de dar pena de sujar com terroristas, mas o 1º Regimento de Cavalaria de Guardas tem, por exemplo, Seção de Contrainteligência e Pelotão de Choque.
A foto abaixo é do Pelotão de Choque dos Dragões da Independência:

Quando no dia 8 de janeiro bolsonaristas invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, porém, não se viu dragão nenhum.
Na CPMI do 8/1, o senador Randolfe Rodrigues, citando mensagens obtidas pela comissão, revelou que na antevéspera do ataque à Praça dos Três Poderes o coronel reformado André Luiz Garcia Furtado, que era coordenador de Segurança do GSI, encaminhou comunicação ao Comando Militar do Planalto para que o Pelotão de Choque dos Dragões da Independência fosse liberado da prontidão.
O coronel André Luiz era remanescente da equipe do general Augusto Heleno. Mesmo após o 8/1, o governo Lula esperou até o dia 27 de abril para exonerá-lo.
O Comando do Exército, interpelado pela CPMI, informou que a partir das 17h15 do dia 8 de janeiro, só a partir das 17h15 – o assalto ao Palácio começou por volta das 15h – 40 militares do 1º Regimento de Cavalaria de Guardas atuaram na “contenção dos manifestantes, desocupação do estacionamento e área externa do Palácio do Planalto”.
Sumidos no 8/1, os Dragões da Independência atuaram em vários outros momentos da cerimônia de apresentação do “Projeto de Nação – O Brasil em 2035”, com sua fanfarra, além da execução do Hino Nacional. Um deles foi subindo o som quando o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, recebeu simbolicamente o primeiro exemplar impresso do projeto de ditadura reloaded, no centro do palco do teatro da Poupex, a previdência privada dos militares.
Naquele dia, os convidados do lançamento do “Projeto de Nação” estacionaram no mesmo lugar, o estacionamento da Poupex, liberado para quem chegava motorizado para o acampamento golpista da Praça dos Cristais, na frente do QG do Exército, após o segundo turno das eleições de 2022.
Que projeto é esse?
Urdido com apoio do general Villas Bôas e sob a batuta do general Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-dirigente do grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma), ligado ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, o “Projeto de Nação” prevê – ou previa – vencer um sem número de “óbices” a diretrizes para o Brasil traçadas nos círculos militares, entre eles o “poder midiático e eleitoral do discurso globalista”, “a doutrinação facciosa efetuada por professores” e “restrições da legislação indígena e ambiental que se conclua serem radicais”. O “Projeto de Nação” previa também o fim da gratuidade do SUS.
Na apresentação do documento, ao som dos Dragões, o general Rocha Paiva afirmou que “nos governos militares havia projeto de nação”, ilustrando seu raciocínio com o seguinte slide, que tinha o ano do golpe de 1964, data de ruptura, como data de corte:

Além da fanfarra dos Dragões da Independência, o coral do Colégio Militar de Brasília também animou a cerimônia de apresentação do “Projeto de Nação – O Brasil em 2035”. O então vice-presidente da República, Hamilton Mourão, esteve presente e discursou. Tinha ministro do Superior Tribunal Militar. O então chefe do Estado-Maior do Exército, general Valério Stumpf, também estava lá, mas ficou calado. Em 2021, quando era chefe do Comando Militar do Sul, Stumpf colaborou com a elaboração do “Projeto de Nação”, fazendo circular um questionário preparatório para o documento entre seus subordinados.

O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), hoje membro da CPMI do 8/1, estava presente, assim como o general da reserva Ridauto Lucio Fernandes, que subiu ao palco na qualidade de coautor do “Projeto de Nação”, ao som da fanfarra dos Dragões. Nesta sexta-feira, 29, o general Ridauto foi alvo de busca e apreensão no âmbito da Operação Lesa Pátria, da Polícia Federal. Presente também nos ataques do 8/1, como terrorista, o general Ridauto é suspeito de abrir caminho para as invasões com técnicas aprendidas nas Operações Especiais do Exército.
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