Conforme a mídia tinha adiantado, anunciando que Jair Bolsonaro preparava um “golpe abaixo da cintura” contra Lula, Bolsonaro desenterrou no debate da Rede Globo o caso do assassinato do petista Celso Daniel, morto quando era prefeito de Santo André. Bolsonaro fez isso numa pergunta a Simone Tebet. Levou uma invertida: Tebet disse que o candidato que Bolsonaro acusava de um crime estava sentado bem ali, e que Bolsonaro tomasse coragem para dirigir a pergunta ele.
Bolsonaro pôs o rabo pontiagudo entre as pernas. Depois, teve uma única chance ao longo de todo o debate de chamar Lula ao púlpito. Amarelou e chamou Felipe D’Amoedo, desculpe, Felipe D’Avila, com quem fez uma dobradinha. Estivesse atrás de votos, Bolsonaro, não tendo mais nada a perder, não teria perdido a chance do embate olho no olho com Lula. Mas Bolsonaro, há tempos ciente de sua inviabilidade eleitoral, após quatro anos de múltiplas desgraças, não está atrás de votos; Bolsonaro está atrás de manter sua matilha atiçada, como numa rinha de cães prestes a começar – e, acredite, ela vai começar.
Quanto a Simone Tebet, os Mervais da vida e da mídia não tardaram em exercitar o que lhes resta: tentar ungir a candidata do MDB como o nome da “direita civilizada” para o futuro. Leia-se: 2026. Ainda que “civilizada” não seja propriamente uma categoria adequada, por assim dizer, para englobar alguém que há dois anos disse numa sabatina que em 2018 o Brasil “fez o dever de casa” elegendo o candidato da barbárie.
Quanto a Ciro Gomes, lá pelas tantas Ciro sentiu uma pontada no coração com o qual diz amar o Brasil e os brasileiros. Ciro julgou ser o que leva de sempre no peito: rancor. Mas era ciúme. Era ciúme da dobradinha Bolsonaro/D’Avila, dobradinha que confirmou, uma vez mais, que o neoliberalismo levado ao seu paroxismo, tipo o Novo, tem como destino fazer parzinho com o fascismo. O padre de festa junina deve ter se animado para celebrar o casamento.
O “padre” Kelmon, laranja de Roberto Jeferson e esbirro de Bolsonaro. Ou, como embananou-se Soraya Tronicke, “Padre Kelson. Kelvin? Ah, hum… candidato padre”. Sobre Lula ter subido a voz contra o aldrabão, colocando-o em seu devido lugar – o chão -, desmascarando o farsante com fogo nos olhos e demonstrando sincera indignação, muitos do campo democrático lamentaram que o líder nas pesquisas tenha entrado em “bate boca”. Reclamamos quando a jararaca aparece sonolenta, como no debate da Band. Reclamamos quando a jararaca está viva.
Sobre Tronicke, cujas credenciais políticas se resumem a fazer brainstorms com assessores em busca de lacrações pretensamente geniais, a senadora conseguiu a proeza de perder um embate com Kelmon, Kelson, Kelvin, após perguntar ao candidato K. se ele não tinha medo de ir para o inferno. Recebeu como resposta a acusação de que gosta de mandar padres pro inferno, de modo que foi a candidata T. que deve ter tido sonhos intranquilos no que restou da noite após o longo debate.
Um longo e tenebroso debate que espelhou o nosso longo e tenebroso inferno, ao qual no próximo domingo, dia 2, espera-se que o povo brasileiro exerça, altivo, com firmeza, o seu direito de resposta.
Como diria William Bonner: “vamos respirar, vamos respirar”.