O governo do Estado de São Paulo entrou com R$ 28 milhões, a prefeitura de São José do Rio Preto chegou junto com mais R$ 15 milhões, mesma importância levantada junto à iniciativa privada – da Fundação Lemann à XP Investimentos -, e assim, com um total de R$ 58 milhões à disposição, a ONG Gerando Falcões promete “quebrar o ciclo de pobreza” numa favela paulista onde 71% dos 630 moradores padecem no desemprego e a renda per capta é de R$ 199,00.

Você ligará a ONG à pessoa se atentar para um comercial ora em exibição na TV que começa repisando um preconceito bem bolsonarista, “o brasileiro precisa ser estudado pela Nasa”, e termina dizendo que a falcoaria social, por assim dizer, vai dar cabo da pobreza antes do homem pisar em Marte.

A começar pela favela de São José do Rio Preto, que era a favela de Vila Itália e agora, para receber a ONG Gerando Falcões, foi rebatizada como… “Favela Marte”.

Ao contrário do planeta vermelho, porém, parece que a “Favela Marte” nunca terá a cor das lutas sociais mais consequentes, a julgar pelo amálgama de bordões gerenciais-terceiro-setoristas-empreendedorísticos com que se pretende – que novidade – mandar as contradições do capitalismo em geral, e da sociedade brasileira em particular, para o espaço…

Em vez de lutas sociais, de políticas públicas, em vez de política, uma tal “ciência de foguete”; uma tal “tecnologia social” desenvolvida pela ONG; um tal “plano de decolagem familiar”.

Não obstante as três dimensões da sociedade brasileira que berram bem alto em qualquer favela do país – as da exploração, desigualdade e exclusão – serem de cara suplantadas, só para variar um pouco, por gritos roucos de “resgate da cidadania”, o projeto da Gerando Falcões, bancado por Dória, chama-se Favela 3D, de “Digital, digna e desenvolvida”.

Como? Por meio de todo um trabalho da “questão sócio-emocional” dos moradores a fim de dirimir suas “crenças limitantes”, que é maneira muito João Dória mesmo, sapatenística, de revolver um outro velho preconceito: o de que o pobre é pobre porque pensa como pobre.

“Quem decide é o cidadão. O que fazemos é colocar a favela na mesa com o governador e o prefeito para cocriar soluções reais”, disse à Folha o CEO da ONG Gerando Falcões, Edu Lyra.

Mui reais: fazer da pobreza peça de museu antes de um cabeça da lista da Forbes pôr os pés em Marte.

Há outros fanatismos devorando o Brasil, além do neopentecostal.

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