No Chile, deputado constituinte que justificar Ditadura sofrerá punição

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A Comissão de Ética da Assembleia Constituinte do Chile decidiu impor punições aos deputados constituintes que neguem violações já comprovadas de direitos humanos por agentes do Estado durante a Ditadura de Augusto Pinochet.

A Assembleia Constituinte do Chile foi instalada em junho para redigir uma nova carta e assim enterrar a Constituição promulgada por Pinochet, ainda vigente no país.

“Será entendido como negacionismo qualquer ação ou omissão que justifique, negue, minimize ou glorifique os crimes contra a humanidade ocorridos no Chile entre 11 de setembro de 1973 e 10 de março de 1990″, diz a resolução da Comissão de Ética.

Será punido também o deputado constituinte que negue as violações dos direitos humanos por agentes do Estado durante os protestos multitudinários de 2019 no Chile, bem como aqueles que tentarem legitimar as atrocidades e o genocídio cultural de que os povos indígenas foram vítimas ao longo da história chilena, desde a colonização europeia.

Ganha um estágio não remunerado no blog de Allan dos Santos – ou na Secom do Planalto, ou no Clube Militar, dá no mesmo – quem adivinhar como os deputados pinochetistas, y los hay, reagiram à decisão da Comissão de Ética da Assembleia Constituinte do Chile.

Sim, eles reagiram dizendo que se trata de “um atentado à liberdade de expressão”.

No Chile, a Comissão Valech, equivalente à Comissão Nacional da Verdade (CNV) no Brasil, contabiliza 2.125 mortos e 1.102 desaparecidos políticos durante a Ditadura Pinochet.

No Chile, mais de 100 repressores já foram condenados ao xadrez, onde gozam de celas espaçosas, iluminadas, banheiro limpo e até TV por satélite, ao contrário, muito ao contrário, dos chilenos que eles sequestraram, enjaularam, torturaram e mataram poucas décadas atrás.

No Brasil…

No Brasil, na raiz da nossa desgraça hodierna, como elemento fundamental mesmo, está a reação da milicada à Comissão Nacional da Verdade, instalada pelo governo Dilma Rousseff, e à possibilidade aberta pela comissão, ainda que remota, de revisão da Lei de Autoanistia de 1979.

Em livro recém-publicado, o general Eduardo Villas Bôas – aquele a quem Bolsonaro diz dever sua eleição e com quem Bolsonaro tem um segredo que a dupla levará para túmulo -, em seu livro, dizíamos, Villas Bôas diz que a CNV foi a razão primeira do apoio das Forças Armadas ao golpe de 2016.

No Brasil, o deputado que sempre justificou, negou, minimizou e glorificou os crimes contra a humanidade cometidos pela Ditadura não apenas foi absolvido pela Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, mas foi eleito presidente da República.

Os seguidos ataques desferidos precisamente contra uma deputada que teve papel destacado na criação da CNV, Maria do Rosário, tornaram Jair Bolsonaro nacionalmente conhecido e foram, assim, sua pré-candidatura. Uma homenagem ao torturador da presidente que instalou a Comissão da Verdade foi o pontapé inicial da sua campanha.

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