Em aceno ao partidos de direita, em nome da governabilidade, Luis Inácio Lula da Silva deu na primeira reunião ministerial do seu terceiro governo a diretriz para arranjos e rearranjos políticos dali pra frente, rigorosamente a mesma que sempre existiu nos governos do PT dali pra trás: “não tem veto ideológico para conversar”.
Faria sentido, mesmo que as condições não sejam as mesmas de lá atrás, com a ascensão do fascismo, em vez do neoliberalismo, como antagonista ideológico principal das forças populares-democráticas, mas tendo em vista que as condições para a reconstrução nacional demandam abrir até perto de arregaçar o leque de uniões, como aliás ficou patente na formação da coligação Brasil da Esperança e da chapa Lula-Alckmin, passando pelo abraço ao “janonismo cultural”.
Faria sentido, dizíamos, não fosse o fato de o veto de Lula ao “veto ideológico” não fosse a rigor a senha para conversar, negociar eventualmente até governar com artífices das várias vertentes do grande retrocesso nacional, vide a presença de Daniela do Waguinho, ligada a milícias do Rio de Janeiro, naquela primeira reunião ministerial.
A diretriz de que “não tem veto ideológico para conversar” soou como a primeira de Beethoven, por exemplo, para Washington Quaquá, o homem forte do PT fluminense que com uma das mãos abençoava o batismo de um hospital em homenagem a Che Guevara em Maricá enquanto, com a outra, tentava puxar a milícia para dentro do partido.
Quando tentou lançar candidato pelo PT um policial militar que militava na “Liga da Justiça”, milícia que tortura e mata em Santa Cruz, Paciência e Sepetiba, Quaquá foi saraivado por críticas. Então, saiu-se com esta: “sendo portador de três ‘P’ amaldiçoados pela elite branca – preto, pobre e PM -, não me admira que o linchamento ao sargento Beraldo exista, mesmo sem provas”.
Quaquá, aliás, junto com André Ceciliano, foram os articuladores do pacto do PT Nacional com Waguinho, prefeito de Belford Roxo, e Daniela do Waguinho, agora ministra do Turismo, pela conquista de votos na Baixada Fluminense. Que Waguinho e Daniela tenham, por seu turno, pactos com milícias da Baixada, pelo visto “não tem veto” a isso também.
Tampouco, pelo visto, há veto “genocídico” para conversar. Nesta terça-feira, 14, o mesmo Washington Quaquá, que é vice-presidente nacional do PT, não apenas postou uma foto abraçado com Eduardo Pazuello, os dois sorridentes, Quaquá dando joinha, tendo ao fundo o logotipo da Petrobras, mesmo que Pazuello tenha pedido votos para Jair Bolsonaro acusando o PT de ter causado “um rombo de R$ 900 bilhões” na estatal.
Um manda, o outro obedece e Quaquá diz “sorria”.
Mas não apenas isso. Washington Quaquá ainda se atreveu a celebrar o que chamou de “tom civilizado do general”. Não se pode, em nenhuma hipótese, convidar para a mesma frase a palavra “civilizado” e o nome Eduardo Pazuello, mesmo como sujeito oculto.
Não o nome do general que ainda anteontem comandou o Estado Maior da Barbárie sentado na cadeira de ministro da Saúde de Jair Bolsonaro durante os piores momentos, para o Brasil, da aliança do vírus com o(s) verme(s).
Foi em “tom civilizado”, sereno, tranquilo, pacato que Pazuello disse assim quando o Brasil assistia a outros países aplicando vacina contra a covid-19 no braço das pessoas e o Brasil sequer tinha um plano nacional de vacinação contra o SarS-Cov-2: “para que essa ansiedade e essa angústia?”.
É como disse Valter Pomar, em chapuletada dada nesta terça em Washington Quaquá, valendo-se de palavras ditas pelo próprio Quaquá lá atrás, quando o número de brasileiros mortos pela covid-19 ainda não tinha passado de meio milhão (hoje, o número é de quase 700 mil): que esquerda é essa que se anima para dar os braços a genocidas e “sair às ruas pisoteando o túmulo de mais de 450 mil mortos?”.