Passou praticamente em brancas nuvens na mídia corporativa que o almirante de esquadra Almir Garnier Santos, comandante da Marinha, tenha professado, reiterado dentro da Câmara dos Deputados adesão à anunciada estocada autogolpista que Jair Bolsonaro tentará muito provavelmente ainda antes do primeiro turno das eleições.
Tendo em visto o cenário – de golpe fartamente anunciado -, o lapso não é compreensível, nem com médico bolsonarista estuprando parturiente sob efeito de peridural e um esbirro de Jair Bolsonaro assassinando um dirigente do PT com dois tiros de “liberdade”.
(É que “não é sobre armas, é sobre liberdade”, bordão do Movimento Pró-Armas, que promoveu uma marcha de atiradores em Brasília no mesmo dia do assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu e poucos dias após o líder desta organização dizer, referindo-se a Lula e o PT, que “Deus nos levantará diante do mal e irá nos preparar para enfrentarmos esses desgraçados, malignos”).
Na última quarta-feira, 6, na mesma audiência na Câmara dos Deputados em que o ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira, disse que a clonagem de cartões de crédito por golpistas de menor patente, por assim dizer, prova que a urna eletrônica não é “imune a ataques”, o almirante Almir Garnier foi pelo mesmo caminho de terra e mar, bafejando suspeitas sobre se cada voto dado será corretamente computado em 2022 – espécie de senha, código, aceno com que os golpistas de maior glória e patente deste adiantado de Brasil se reconhecem entre si e se fazem reconhecer publicamente.
“Eu acho apenas muito estranho, minhas senhoras e meus senhores, alguém questione uma declaração que faz referência ao cumprimento das normas e da legalidade institucional. Foi esta a declaração do comandante da Marinha, que gostaria que cumprissem todas as legislações que dizem respeito ao processo eleitoral, e que, quanto mais transparência e quanto mais aperfeiçoamento, menores serão os riscos de termos dificuldades. Ninguém vai dizer que eu não tenho direito a ter opinião. E a minha opinião é: as leis devem ser respeitadas e não devem ser torcidas. E mais do que isso: nós temos que ter mais transparência e mais auditoria. Das minhas declarações eu não tiro nem uma vírgula”.
A profissão de fé golpista acontece às quatro horas e 15 minutos do vídeo abaixo:
Garnier se referia a uma entrevista dada ao jornal O Povo, de Fortaleza, no fim de maio. Nesta entrevista, o comandante da Marinha disse o seguinte:
“Eu quero que os brasileiros tenham certeza de que o voto deles vai valer, de que quem eles colocarem na urna vai ser contado e quem eles escolherem de uma forma limpa, transparente, como demanda a Constituição Federal e as leis nacionais, será validado. Não quero ver o meu povo brigando entre si por dúvidas. Então, quanto mais transparência, quanto mais auditoria, melhor para o Brasil, porque nós teremos muito mais certeza do resultado e toda a vida nacional seguirá com mais calma”.
O golpe, se for bem sucedido – ou seja, se ninguém fizer nada – será, digamos, de terra e mar.