Até agora, as informações mais importantes sobre a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid dão conta de que, após perguntar aos chefes das Forças Armadas quem iria de golpe, em vez de Lula, Bolsonaro teria ouvido do então comandante da Marinha, almirante Amir Garnier, que suas tropas estavam à disposição, e, do então comandante do Exército, general Freire Gomes, que “se o senhor for em frente com isso, serei obrigado a prendê-lo”.
O brigadeiro Carlos Batista, à época comandante da FAB, entrou mudo e saiu calado da consulta, segundo consta.
A ameaça de voz de prisão que Freire Gomes teria feito a Bolsonaro teria acontecido em uma reunião secreta entre o então presidente e a cúpula militar realizada no dia 24 de novembro do ano passado, quando Bolsonaro já estava recluso há semanas, após as eleições. Bolsonaro voltou a aparecer em público, porém, 48 horas após aquela reunião.
Em 26 de novembro, dois dias depois de supostamente ter sido enquadrado pelo comandante do Exército, Bolsonaro compareceu à formatura dos cadetes da Academia Militar das Agulhas (Aman), em Resende, no Sul Fluminense.
Estavam lá também os generais Augusto Heleno e Mourão; o ministro do Ataque às Urnas Eletrônicas, general Paulo Sergio, e o general Arruda, que viria a ser nomeado chefe do Exército por Lula e logo depois demitido porque se recusou a reverter a nomeação de Cid para a chefia do 1º Batalhão de Ações e Comandos; estavam lá ainda o atual comandante do Exército, sucessor de Arruda, Tomás Paiva, e, claro, Freire Gomes.
Na qualidade de comandante da Força, Freire Gomes fez um discurso aos aspirantes, que começou assim:
“Jovens aspirantes da turma Bicentenário da Independência, bom dia. Permitam-me abrir estas breves palavras agradecendo ao senhor presidente da República, presidente Bolsonaro, por sua presença, que muito brilho empresta a este evento. Estou seguro de que sua dignidade, seu culto à família, seu amor ao Brasil e inabalável fé em Deus serão referências na pavimentação dos caminhos que os jovens à sua frente trilharão a partir de hoje. Muito obrigado, presidente”.
Está no minuto 55 do vídeo abaixo:
Sejam PMs, sejam os egressos das academias onde se aprende a amar os golpes de Estado, se os militares brasileiros passassem a tratar assim quem está na mira da prisão, a “turma dos direitos humanos” deste país terá cumprido sua tarefa geracional.

Bolsonaro e Freire Gomes chegaram a conversar em público naquele dia, na Aman:

Por falar em prisão, Mauro Cid, antes de delatar o comando da Força Naval e poupar o comando da Força Terrestre, recebeu pelo menos 11 generais – três da ativa, um deles do Alto Comando – no cárcere do Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília. A remuneração básica militar de Cid é de R$ 27 mil por mês.
Em tempo: foi naquele mesmo aspirantado da Aman, no dia 26 de novembro de 2022, que Mourão foi flagrado dizendo o seguinte a Bolsonaro, segundo especialistas em leitura labial: “Você não vai falar para o seu povo, não? Abre o jogo”.
Na época, Mourão classificou a informação de “leitura labial fake”.
Sobre as reuniões de Bolsonaro com os comandantes militares para análise de conjuntura para um golpe, Mourão disse nesta terça-feira, 26, ao jornal O Globo, que tudo não passou de “um mero blá-blá-blá”.
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