Semanas atrás, correu a notícia de que a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, extinta nas últimas horas do governo Jair Bolsonaro, seria finalmente recriada no dia 25 de outubro. Promessa de campanha indefinidamente adiada por Lula, a recriação da comissão seria feita simbolicamente no 48º aniversário do assassinato de Vladimir Herzog pela ditadura. A intenção do ministro de Direitos Humanos, Silvio de Almeida, era usar a data para dar posse aos membros da comissão.
Porém, nesta quarta-feira, 25, 48 anos da morte de Herzog, não há sinal da reinstalação da comissão, como não houve um milímetro de avanço em matéria de verdade, memória e justiça para as vítimas da ditadura nos 297 dias anteriores do governo Lula três, mesmo após quatro anos de política de “quem procura osso é cachorro” do governo Bolsonaro.
No início de outubro, o Estadão já adiantava que na verdade era pouco provável que a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos voltasse a funcionar no dia 25. Isto porque o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, “tem se empenhado para adiar” a reinstalação da comissão. Parece que Múcio conseguiu.
Segundo a reportagem do Estadão, a avaliação de Múcio é que “seria mais produtivo pensar em medidas que possam pacificar e não piorar um cenário que já é complexo”. A referência é aos militares.
Seria interessante pôr José Múcio Monteiro para ponderar nestes termos, ou seja, brincar de esconde-esconde com restos mortais, na presença, na frente de quem há décadas tenta arrancar dos quartéis informações sobre o paradeiro dos seus entes queridos assassinados pelos entes idolatrados, festejados, protegidos por militares bem vivos da ativa.
Na frente, por exemplo, de Diva Santana, irmã de Dinaelza Santana Coqueiro e cunhada de Vandick Coqueiro, ambos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, nos anos 1970. Disse Diva também no início de outubro, ao jornal O Globo, acerca do “parecer” sobre a recriação da comissão pedido pelo governo Lula ao Ministério da Defesa:
“O presidente anterior extinguiu e o presidente atual está pedindo ajuda à Defesa? Se a comissão não tem poderes nem sequer para punir criminosos, réus confessos, onde cabe desgaste? Sinceramente, enquanto os familiares não forem ouvidos e respeitados, o sentimento é de descaso e perplexidade. O país está sendo conduzido por dois governos, um civil e outro militar”.
Nesta quarta, Malu Gaspar publica no jornal O Globo matéria intitulada “Ministério da Defesa dá aval à instalação de comissão que incomoda militares”. No corpo da matéria, porém, ficamos sabendo que até a tarde desta terça-feira, 24, nenhum parecer da Defesa tinha chegado ao Ministério dos Direitos Humanos e que Múcio apenas disse que o parecer está pronto e que o papel aponta “que não há impedimentos jurídicos para a reativação do grupo”.
Como poderia haver? Já existe a lei. É só assinar um decreto que, segundo consta, está na mesa de Lula desde março, empoeirando. O impedimento é milico e, segundo Malu Gaspar, Múcio, civil de quatro estrelas, continua “preocupado” com a reinstalação da comissão.
Vamos falar português: além de acobertar golpistas de agora, Múcio vem sabotando a localização de corpos de vítimas de golpistas de antanho, os da ditadura civil-militar. A presença de José Múcio Monteiro na Defesa transformou a pasta em Ministério da Defesa de Golpistas e Ocultação de Cadáveres.
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