Foto: Antônio Oliveira.

No ano passado, o nome de José Múcio Monteiro para o Ministério da Defesa foi anunciado pelo então governo de transição no dia em que a seleção da CBF cruzou os bigodes com a Croácia na semifinal da Copa do Mundo do Catar.

Foi, portanto, um anúncio para passar o mais despercebido possível, da mesma forma que entre o difícil, indigesto, mas necessário enfrentamento da questão militar ou a varrição da questão militar para debaixo do tapete, optou-se… Bem, optou-se por José Múcio Monteiro, um produto da Arena e de várias gerações de senhores de engenho e usineiros da capitania de Pernambuco, escolhido para o cargo, a rigor, de dentro do Forte Apache, como condição para que os novos comandantes posassem para as câmeras prestando continência ao novo presidente da República.

Entre ser anunciado e ser empossado, ao longo da fermentação golpista dos últimos meses de 2022, Múcio pronunciou-se publicamente dizendo:

  1. que Bolsonaro é um democrata;
  2. que concentração golpista na frente de quartel “é uma manifestação da democracia”;
  3. que tinha parentes e amigos na frente de quartéis.

No dia em que José Múcio tomou posse, participaram da cerimônia os ex-integrantes do governo Jair Bolsonaro almirante Bento Albuquerque, general Joaquim Silva e Luna e general Fernando Azevedo e Silva.

Na manhã de 8 de janeiro, após a Abin disparar para a Assessoria de Inteligência de Defesa do Ministério da Defesa e para a Diretoria de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça informes de “risco de ações contra edifícios públicos” em Brasília, Múcio meteu-se num carro descaracterizado e foi para a frente do QG do Exército a fim de “sentir pessoalmente o clima” do acampamento golpista, tendo reportado sua impressão a Flavio Dino.

Não se sabe ao certo, não veio a público o que Múcio reportou a Dino naquela manhã, momentos antes de uma massa de golpistas começar a marchar, à vontade, do QG para a Praça dos Três Poderes. O que se sabe é que, durante os ataques, Múcio soprou três letrinhas no ouvido de Lula, GLO – tudo o que os golpistas queriam. O que se sabe também é que, naquele dia, no fim do dia, após os ataques, Dino e Múcio tiveram uma forte discussão na porta do gabinete de Lula, como mostram imagens de câmeras do Palácio do Planalto.

Na última terça-feira, 11, quando o Exército soltou uma nota dizendo que partiu da Força a orientação para que o tenente-coronel-ajudante-de-ordens-de-Bolsonaro Mauro Cid comparecesse fardado à CPI do 8/1, Múcio saiu em defesa da tentativa militar de intimidação do governo civil – mais uma, e mais uma que vai ficar por isso mesmo.

No embalo, Múcio cunhou uma nova nomenclatura para fardados golpistas: “indignados”. Foi esta a palavra que Múcio contrapôs a “legalistas” quando, falando à Folha sobre a farde de Cid, disse que tinha uma “tese” sobre os acampamentos golpistas e seu estuário, o 8/1.

A “tese” dos “indignados” esgrimida por Múcio não passa de CTRL+C, CTRL+V daquilo que vêm cacarejando todos aqueles que de alguma maneira participaram da conspiração golpista – conspirando, açulando ou quebrando – e que agora se desdobram para caracterizar o 8/1 como mera catarse resultante de chateação com o TSE.

Quantas vezes mais José Múcio Milicos Monteiro irá trair o governo civil antes de o galo cantar, da cobra fumar, da onça beber água? Quantas vezes, até que finalmente seja demitido? Até agora, o ministro da Defesa de Golpistas parece o único na esplanada a salvo das chantagens do centrão.

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