Depoimento do hacker Walter Delgatti Neto na CPMI do 8/1 (Foto Lula Marques/ Agência Brasil).

Por mais que esteja claro que a inserção do hacker Walter Delgatti Neto no Ministério da Defesa, pela porta dos fundos, fez parte da guerra movida por Jair Bolsonaro e pelos militares contra a credibilidade das urnas eletrônicas, o timing pode ter sido menos aleatório do que se imagina e, a razão, mais específica do que o mero fato de Bolsonaro não entender nada “dessa parte técnica”.

Walter Delgatti diz que sua reunião com Bolsonaro no Palácio da Alvorada aconteceu no dia 10 de agosto do ano passado e que, em seguida, ele foi encaminhado pelo então presidente aos militares. Delgatti afirmou à CPMI do 8/1 e à Polícia Federal que esteve cinco vezes no Ministério da Defesa. Fontes do ministério confirmaram à Folha de S.Paulo pelo menos uma visita do hacker à Defesa, feita no mesmo 10 de agosto, dia da reunião no Alvorada e dia seguinte à reunião entre Delgatti e a cúpula do PL.

A data colhida pela Folha “cai” no meio da realização, pelo Ministério da Defesa, da edição de 2022 do Exercício Guardião Cibernético, considerado o maior exercício de guerra cibernética do Hemisfério Sul. Na época, Come Ananás chamou atenção para o Guardião Cibernético, na matéria “Defesa inicia exercício de guerra cibernética em meio a ataques de Bolsonaro e da pasta às urnas”, publicada no dia 20 de julho.

O exercício havia começado naquele dia, 20 de julho, com uma competição de ataques hackers simulados do tipo Capture The Flag (CTF). A competição, que aconteceu das 10h às 16h, teve a participação de civis e militares e consistiu em desafios de níveis básico, intermediário e avançado nas áreas de redes, programação, exploração web, exploit (exploração de vulnerabilidades de hardwares e softwares), criptografia e forense computacional.

A fase final do Exercício Guardião Cibernético aconteceu entre os dias 16 e 19 de agosto, com atividades de Problemas Cibernéticos Simulados (PCS) em Brasília e São Paulo.

A exemplo das edições anteriores, o Exercício Guardião Cibernético 2022 foi conduzido pelo Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber), organização militar do Exército Brasileiro. Naquela altura, o ComDCiber era chefiado pelo general Heber Garcia Portella, que foi o representante das Forças Armadas indicado pela Defesa para a Comissão de Transparência Eleitoral (CTE) do TSE, criada em setembro de 2021 pelo então presidente do tribunal, Luis Roberto Barroso.

A indicação de Portella para compor a CTE foi feita pelo general Braga Netto, quando o futuro vice na chapa de Bolsonaro era ministro da Defesa. A CTE acabou sendo usada pelos militares como posto avançado no seio do TSE para questionamentos à credibilidade das urnas eletrônicas.

Foi também entre a fase inicial e a fase final do Exercício Guardião Cibernético que o Ministério da Defesa criou a Equipe das Forças Armadas de Fiscalização do Sistema Eletrônico de Votação (EFASEV), por meio de uma portaria do ministro-general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira publicada no dia 2 de agosto, oito dias antes da visita de Walter Delgatti à Defesa confirmada pela Folha.

A EFASEV contava com quatro integrantes do Exército, três da Marinha e três da Aeronáutica, era diretamente vinculada ao Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e funcionou como “sucessora” do general Portella como instrumento dos militares para lançar dúvidas sobre o processo eleitoral. Porém, o atual ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e jornalistas tarimbados insistem em dizer, sobre a escalada golpista, que “não foi o Exército, foram figuras”.

Voltando ao Exercício Guardião Cibernético, uma das 11 empresas ou organizações certificadas pelo ComDCiber para dar apoio à edição 2022 do evento foi a multinacional brasileira Kryptus Segurança da Informação.

A Kryptus é credenciada pelo Ministério da Defesa como Empresa Estratégica de Defesa e já havia participado do exercício em 2020 e 2021. O CEO da Kryptus, Roberto Alves Gallo Filho, também integrou, junto com o general Heber Portella, a Comissão de Transparência Eleitoral do TSE.

A Kryptus fabrica componentes de segurança do sistema brasileiro de votação eletrônica, conforme referido em um ofício enviado em fevereiro de 2022 por Barroso justamente ao general Portella – o longo e conhecido ofício por meio do qual o TSE respondeu a dezenas de questionamentos insidiosos dos militares sobre as urnas eletrônicas.

“Os perímetros criptográficos das urnas emitem requisições de certificado que são validadas por uma Autoridade Certificadora das Urnas Eletrônicas, cujas chaves privadas estão armazenadas e protegidas em HSMs (Hardware Secure Modules) certificados ICP-Br, fabricado pela Kryptus”, dizia o ofício do TSE.

No Guardião Cibernético 2022, a tarefa que coube à Kryptus, segundo a empresa, foi a “simulação virtual de ataques cibernéticos”.

Apoie o Come Ananás com assinatura ou Pix

Fortaleça a imprensa democrática brasileira.

FAÇA UMA ASSINATURA de apoio ao jornalismo do Come Ananás. Mensal ou anual, via Google. Cancele quando quiser. Você também pode fazer uma contribuição única.

OU FAÇA UM PIX de apoio ao Come Ananás, de qualquer valor. Toda contribuição é importante. Estas são as chaves Pix do Come Ananás:

Celular
(24) 98828-1201
E-mail
pix@comeananas.news
CNPJ
43.651.012/0001-99

Assinantes antigos podem gerenciar suas assinaturas de apoio na área do assinante ou no portal do cliente da Stripe.

Deixe um comentário

Deixe um comentário