Em 2018, após Michel Temer arregaçar o Ministério da Saúde para a turma do Ricardo Barros, o governo federal desativou a Central Nacional de Armazenagem e Distribuição de Imunobiológicos (Cenadi), órgão público sediado no Rio de Janeiro, e terceirizou o transporte e armazenagem dos insumos críticos de saúde, assinando contrato até 2023 com a empresa VTC-Log, de São Paulo, mas muito bem relacionada em Brasília.
A Cenadi funcionava muito bem, obrigado, quando responsável pela logística de imunobiológicos do SUS, contando com um quadro de técnicos altamente qualificados, treinados pela Fiocruz para o manejo de rede de frios.
A justificativa para terceirizar a logística de vacinas, medicamentos, kits para diagnóstico laboratorial e outros insumos do SUS foi “redução de custos”. Os custos anuais desta tarefa eram de R$ 120 milhões, quando a tarefa cabia à Cenadi. O contrato assinado com a VTC-Log foi de R$ 97 milhões por ano – uma economia, a princípio, de R$ 23 milhões, a custa de sacrificar um órgão público de excelência na área de saúde.
No ano de 2020, porém, o Ministério da Saúde pagou ao todo R$ 239 milhões à VTC-Log. Já tinha pandemia, mas ainda não tinha vacina. Em 2021, com a distribuição de vacinas, a VTC-Log recebeu do governo mais ainda, 25% a mais do que no ano anterior: R$ 298,9 milhões. Só de vacinas da Pfizer a VTC-Log distribuiu mais de 150 milhões de doses ao longo do ano passado.
Mas eis que às vésperas do Natal, no dia 22 de dezembro do ano passado o Departamento de Logística do Ministério da Saúde, comandado por um general, assina o seu último contrato de 2021, com a IBL Logística, sediada – atenção, carbonários – na rua Borba Gato, em Guarulhos, sem experiência com vacinas, mas com dispensa de licitação e com um muito específico objeto: armazenagem de 16 milhões de doses de vacinas Pfizer ao longo de 2022, “no range de temperatura de – 90°C a – 60°C”, e ao custo de R$ 28 milhões.
Em outubro, um dos sócios da VTC-Log disse à CPI da covid que “para atender a demanda da Pfizer tivemos que investir mais de R$ 30 milhões, comprar ultrafreezer para armazenar a vacina da covid, preparar embalagem, que não tinha no mundo inteiro. Tivemos que nos reinventar”.
Na primeira operação com a IBL, a dos primeiros lotes de vacinas Pfizer para crianças, no último fim de semana, quase 60 mil doses enviadas a Pernambuco por pouco não tiveram que ir para o lixo porque o carro da IBL atrasou, e muito, para buscá-las no aeroporto, e a temperatura “esquentou” a -48°C.