Sou um reacionário hidrofóbico. Anos atrás, abusei da minha posição para de todo jeito tentar sabotar os governos do PT. Defendo a deposição de governos constitucionais. Votei em Jair Bolsonaro em 2018, posto que sob a capa da “direita civilizada”. Agora, com Lula empossado e usando o mesmo envoltório, já me encarniço em declarações de guerra ao progressismo. Quem sou eu?
Antônio Hamilton Martins Mourão? Também. Mas estamos falando aqui de Merval Soares Pereira Filho.
Em textículo publicado nesta terça-feira, 3, em seu blog n’O Globo, Merval, à moda Mourão, se põe a dar uma de líder – na redação – da oposição reacionária à influência do campo popular no novo governo: “Lula não pode dar muito espaço à esquerda do PT”.
Até as bestas mais abestalhadas do Jardim Botânico têm ciência de que aos mervais da vida restou a pressão para que Lula entregue as áreas chaves do governo à, digamos, direita do União Brasil, já que os tucanos foram praticamente extintos. Aos mervais da vida restou tentar mudar na marra o slogan do novo governo de “união e reconstrução” para “União Brasil e privatização”.
Não eram nem 72 horas do governo Lula 3 e Merval Pereira já acusava Lula de usar “expressões radicais” e de “jogar pobres contra ricos”. Déjà vu. Em seu textículo, Merval ainda lamenta que o ministério de Lula “tenha ficado menos frente ampla do que deveria ser” e que “o PT continua dominando as pastas principais e os postos mais importantes do governo”.
Como se, para os principais ministérios, Lula não tivesse nomeado petistas apenas para a Fazenda e Educação e para as pastas palacianas. Só faltava mesmo os mervais da vida requisitarem algum Luciano Bivar para a Casa Civil ou uma Daniela do Waguinho para a Secretaria de governo.
(Merval Pereira protesta contra uma suposta pouca amplitute da frente, mas a frente é tão ampla que uma aliada de um miliciano da Baixada Fluminense foi nomeada ministra do Turismo, enquanto aquele que presidiu a CPI das Milícias no Rio de Janeiro ficou com o cargo de segundo escalão de presidente da Embratur. No relatório final da CPI, Marcelo Freixo citou o ex-policial militar Juracy Alves Prudêncio, o Jura, o aliado de Daniela do Waguinho, como líder de um grupo de extermínio).
Nem a pau, Merval
Ou será que Merval Pereira, como os bolsonaristas mais tarados, classifica como “petistas” alguns novos ministros por tão somente reunirem conhecimento de causa e humanismo para o desempenho de suas respectivas atribuições, como Nísia Trindade, Silvio Almeida e Margareth Menezes?
Nem a pau, Merval.
As recomendações de Merval Pereira, dispensamos, mas a figura deste velho termômetro dos assanhamentos das classes possuidoras pode, sim, ser muito útil ao governo de reconstrução nacional.
“O jornalismo de guerra promovido contra mim e o presidente Lula é a prova de que a escalada autoritária contaminou radicalmente os formadores de opinião pública, como Merval Pereira”, disse Dilma Rousseff em abril de 2017, numa sapatada em Merval Pereira quando Merval sugeriu, em tintas, a prisão da ex-presidenta.
Merval Pereira e seu bigode, como Hamilton Mourão e sua cara de areia mijada, estão aí para não perder, para não perdermos de vista a imperiosa obrigação de regulação da mídia e disciplinamento das Forças Armadas, no que definitivamente não ajudam as figuras de Juscelino Filho e José Múcio Monteiro nos ministérios das Comunicações e da Defesa, respectivamente.
Definitivamente não ajudam.
Esse lixo golpista nunca vai nos deixar em paz
Olá.
Por favor, o que a regulação da mídia tem a ver com as opiniões de Merval Pereira ?
Com a mídia “regulada ” as opiniões dele também seriam reguladas ?
Paulo Violeta, Rio de Janeiro.