Em um mesmo dia de maio de 2019, o então presidente Jair Bolsonaro recebeu presentes de três diferentes pessoas jurídicas: da empresa Compactor, duas canetas esferográficas; da Firjan, uma personalíssima Medalha do Mérito Industrial; da transnacional de logística portuária Dubai Ports World, que tem matriz nos Emirados Árabes Unidos – e que movimenta 10% do tráfego global de contêineres -, da DP World, dizíamos, Bolsonaro ganhou uma escultura dourada não de cavalo, mas de falcão.

Da Compactor, o presente foi de valor insignificante, ainda que em 2019 a empresa tenha vendido como água a edição especial bolsonarista de sua esferográfica econômica: “melhor já ir garantindo a sua”. Da Firjan, foi satisfação com a edição da “MP da Liberdade Econômica”: “gratidão, senhor presidente”. O falcão dourado da DP World foi, até que se prove o contrário, só um presentinho.
As canetas, as medalhas e a escultura estão juntas e misturadas na longa lista de presentes que Bolsonaro recebeu quando presidente e que Bolsonaro, derrotado nas urnas, decidiu já ir malocando em algum galpão. Na mesma relação estão a abotoadura, o anel, a caneta, o relógio de pulso e o rosário islâmico, tudo de ouro, que o almirante Bento Albuquerque contrabandeou da Arábia Saudita para Bolsonaro em outubro de 2021.
Nesta quarta-feira, 15, o TCU deu cinco dias para Bolsonaro devolver o contrabando. O TCU também determinou uma varredora no acervo de presentes recebidos por Bolsonaro em seus quatro anos de mandato. A devassa poderá dizer se também é de ouro, ou banhado, o falcão dourado dado a Bolsonaro pelo CEO global da DP World, Sultan Ahmed Sulayem, às vésperas de irromperem sérias ameaças legais aos planos bilionários da DP World de ampliação da sua operação no porto de Santos.
Certo mesmo, até agora, é que no galpão da muamba há pelo menos duas aves de rapina. A uma delas, nossos votos de que tenha sempre sua base preservada.